Nas próximas décadas as mudanças climáticas vão forçar milhões de pessoas a abandonar suas casas para fugir da seca e da elevação do nível dos mares, o que vai requerer um novo plano para migração de massa, diz um relatório divulgado nesta quarta-feira (10/06). Serão necessários recursos para ajudar migrantes a escapar de desastres naturais que vão se agravar, ameaçando a estabilidade política, afirma o relatório divulgado pela U.N. University, Care International e Columbia University.
"Migração induzida pelo meio ambiente e deslocamentos de população têm o potencial de se tornar um fenômeno sem precedentes, tanto em alcance como gradação", diz o estudo, intitulado "Em busca de abrigo: Mapeando os efeitos das mudanças climáticas sobre a migração e os deslocamentos humanos". "Nas próximas décadas, as mudanças climáticas vão motivar ou forçar milhões de pessoas a abandonar suas casas em busca de meios de vida viáveis e de segurança."
O relatório afirma que a ciência das mudanças climáticas ainda é muito nova para fazer projeções de números exatos de migrantes, mas cita uma estimativa da Organização Internacional de Migração de que por volta de 2050 haverá 200 milhões de migrantes induzidos por problemas ambientais. O estudo destaca especialmente regiões vulneráveis do mundo incluindo: Estados-ilhas como Tuvalu e as Maldivas, áreas secas como o Sahel (África) e no México e regiões em deltas de rios, como em Bangladesh, Vietnam, e Egito. "Nos deltas densamente povoados dos rios Ganges, Mekong e Nilo, um aumento no nível do mar de 1 metro poderia afetar 23,5 milhões de pessoas e reduzir em pelo menos 1,5 milhão de hectares a terra atualmente explorada por agricultura intensiva", diz o estudo.
Cientistas especializados em clima dizem que o nível do mar poderá subir pelo menos um metro neste século. O mundo precisa investir para tornar as comunidades e países pobres mais resistentes às mudanças climáticas, afirma o relatório. "Estes recursos têm de ser novos e acrescidos a compromissos já existentes, tais como os do Official Development Assistance", diz o estudo. Por exemplo: investimento em irrigação tornariam os fazendeiros menos dependentes das chuvas. A educação também ajudaria -- por exemplo, com orientações sobre medidas para proteger o solo.
Migrantes de regiões de desastres climáticos poderão precisar ter novos direitos, diz o estudo. "Os deslocados pelos impactos crônicos das mudanças climáticas precisarão ser reassentados. No momento, as pessoas que se mudam por causa da piora das condições de vida são classificadas como migrantes econômicos voluntários e não têm reconhecidas suas necessidades especiais de proteção." As conversações conduzidas pela ONU para estender o Protocolo de Kyoto depois de 2012 estão sendo realizadas em Bonn, na Alemanha, e enfrentam as divisões entre países pobres e ricos sobre como repartir o custo de prevenção e contenção das mudanças climáticas.
(Por Gerard Wynn, Reuters Brasil, 10/06/2009)