Vice-presidente da Aidesep, principal associação indígena do Peru, Dayse Zapata -dos Yine, uma dos cerca de 65 povos da Amazonia peruana-, assumiu as negociações com o governo após o presidente da entidade, Alberto Pizango, acusado de sedição, receber asilo político da Nicarágua. Para ela, só haverá diálogo com a revogação total dos decretos sobre exploração da Amazônia.
Folha de S. Paulo - Como avalia a suspensão do decreto de lei florestal?
Dayse Zapata - Muito mal. Não muda nossa posição: queremos revogação total. Nossa orientação é continuar a mobilização. Mas não queremos mais violência.
Qual o problema da norma? Vocês são contra a exploração de gás e petróleo na selva?
Zapata - Não fomos consultados, e ela não garante territórios. O governo nunca se preocupou em nos dar títulos de terras, lutamos por isso. [Quanto à exploração], as comunidades é que têm de decidir, negociar [com as petroleiras].
O que é necessário para retomar a negociação?
Zapata - Queremos dialogar com o governo. Mas não podemos enquanto não estiver esclarecido o banho de sangue em Bagua, enquanto o governo não se retratar por nos chamar de criminosos. Essa é a posição dos irmãos da Amazônia. Desde terça (09/06), há uma comissão nossa na região e quando tivermos o informe, sexta (12) ou sábado (13), faremos uma entrega à imprensa para desmentir o que Alan García teve a ousadia de dizer, que houve só nove indígenas mortos.
O asilo de Alberto Pizango é revés para o protesto?
Zapata - Estamos muito agradecidos à Nicarágua. Sua vida não estava garantida aqui. No exterior, ele ajudará a fazer campanha para que sejamos escutados.
Pizango recebeu uma carta do presidente boliviano, Evo Morales, na qual ele prega uma "revolução" no Peru?
Zapata - É totalmente falso. O governo não sabe mais o que inventar porque tem as mãos sujas de sangue. Fica dizendo que há embaixadas, ONGs, partidos por trás da nossa causa.
(Por Flávia Marreiro, Folha de S. Paulo, 11/06/2009)