A Comunidade Europeia de Energia Atômica (Euratom) e o governo brasileiro acertaram na sexta-feira (05/06) os termos de um acordo na área de pesquisa em fusão nuclear que deverá ser assinado na próxima cúpula Brasil-União Europeia, em outubro, em Estocolmo. "O Brasil interessa-nos, porque é um sócio muito importante dos pontos de vista técnico, tecnológico, científico e político", afirmou o diretor da Euratom, Octavio Quintana, durante uma conferência de imprensa em Brasília.
O objetivo das pesquisas em fusão nuclear é encontrar uma forma mais rápida e eficaz para resolver a escassez energética no mundo e substituir os combustíveis fósseis. "É como se uma banheira de água e uma pilha de lítio produzissem energia suficiente para uma família de quatro pessoas durante 30 anos", citou Quintana, destacando a importância da geração de energia limpa. No lugar da divisão do átomo, assim como fazem as atuais centrais nucleares, que utilizam o processo da fissão nuclear, as pesquisas em fusão nuclear visam reproduzir as reações do sol, fundindo os núcleos atômicos.
"O acordo com a Euratom é um passo importante nas negociações para a entrada do Brasil no Reator Termonuclear Experimental Internacional (ITER)", um projeto para gerar energia limpa e barata, destacou o diretor do Departamento de Temas Científicos e Tecnológicos do ministério brasileiro das Relações Exteriores, Hadil da Rocha Vianna. Participam no projeto ITER, além da União Europeia, os Estados Unidos, China, Coreia do Sul, Índia, Japão e Rússia.
Segundo Vianna, o acordo de cooperação entre o Brasil e a Euratom foi negociado durante sete meses e engloba troca de informações científicas e técnicas, intercâmbio de cientistas e engenheiros, organização de seminários e realização de estudos e projetos. O Brasil já possui duas pequenas máquinas de fusão nuclear - uma na Universidade de São Paulo e outra no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, em São José dos Campos, Estado de São Paulo.
Mas para que possa ingressar o projeto ITER, que visa construir um grande reator de fusão nuclear em Cadarache, no Sul de França, é necessário que o país construa antes um laboratório nacional em fusão nuclear, admitiu o presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear, Odair Dias Gonçalves. Este laboratório, orçado em R$ 10 milhões será criado ainda este ano em Cachoeira Paulista, a cerca de 200 quilômetros de São Paulo, devendo entrar em funcionamento dentro de um ano e meio.
Gonçalves salientou que o Brasil é um dos poucos países do mundo que não vivem hoje uma crise de energia mas constata-se que o país precisará de ter uma matriz energética mais diversificada a partir de 2040. "O próximo passo, portanto, é mais investimentos na matriz nuclear brasileira", defendeu Odair Gonçalves.
(Agência Lusa, 05/06/2009)