O Japão revelou nesta quarta-feira (10/06) planos para cortar as emissões de gases do efeito estufa ao longo da próxima década, que são levemente superiores em relação aos compromissos atuais sob o Protocolo de Quioto. Grupos ambientalistas alegaram que o ato pode ser um golpe sobre as negociações climáticas globais.
O quinto maior emissor mundial de GEEs tem estado sob enorme pressão dos países em desenvolvimento para optar por cortes profundos sobre as emissões em 2020, assegurando um resultado forte para as negociações sobre um novo tratado global no final do ano. Mas o Primeiro-ministro Taro Aso, que deixará o cargo dentro de poucos meses, quis balancear a luta contra as mudanças climáticas com as necessidades industriais e dos eleitores durante a pior recessão desde a segunda guerra mundial.
A meta para 2020 é equivalente a um corte de 8% abaixo dos níveis de 1990. Sob o Protocolo de Quioto, o Japão se comprometeu a cortar as emissões em 6% entre 2008 e 2012 com base no nível de 1990, algo que o país tem lutado pra cumprir. “Esta é uma meta extremamente ambiciosa que pretende alcançar uma melhoria de 33% na eficiência energética, mais do que o aumento de 30% na eficiência alcançado durante a crise do petróleo (na década de 1970)”, disse Aso durante uma conferência para a imprensa na quarta-feira. Para ver um gráfico sobre o crescimento das emissões do Japão clique aqui
“Falta de ambição perigosa”
Grupos ambientalistas não se impressionaram, dizendo que a meta faria pouco em relação às emissões dos setores de aço e outros, provenientes da queima de combustíveis fósseis. “O plano divulgado pelo Primeiro-ministro Aso é pavoroso”, comentou a chefe da Iniciativa Climática Global da WWF, Kim Carstensen. “A decisão de Aso, influenciada por poluidores ao invés do público, torna o alcance de um bom acordo ainda mais difícil”.
As discussões climáticas da ONU em dezembro na capital dinamarquesa de Copenhague têm com objetivo fechar um acordo climático mais amplo para substituir o Protocolo de Quioto a partir de 2012. A escolha do Japão sobre esta meta é tida como um sinal importante do nível de ambição dos países ricos na luta contra o aquecimento global. O principal partido de oposição, o democratas, que domina as pesquisas de opinião pública que antecedem às eleições de outubro, declarou a sua preferência por cortes de 25% nas emissões, com base no nível de 1990. “Esta realmente é uma política que combaterá o aquecimento global?” questionou o líder do partido democrático, Yukio Hatoyama, após o anúncio de Aso. “Eu quero que o Japão, como uma potência tecnológica líder, demonstre ainda mais liderança”, completou.
Mas alguns especialistas disseram que o plano era razoável. “É balanceado em vistas das considerações domésticas e globais, e equilibrado em relação à posição inicial do Japão entrando nas negociações futuras para criação de um quadro pós-Quioto”, falou o analista do Instituto de Pesquisas Mitsubishi Satoshi Hashimoto sobre a meta. O especialista sobre diplomacia ambiental da Universidade de Pequim Zhang Haibin foi crítico. “O que o Japão propõe terá um grande impacto, pois é um dos principais países desenvolvidos. E a China quer ver (o Japão) estabelecer metas mais ambiciosas do que Quioto, se a China for fazer mais.”
O Japão tem tido dificuldade em alcançar a meta de Quioto, com empresas e residências tendo aumentado as emissões e usinas de energia não cumprindo os limites de poluição, o que prejudica a sua credibilidade nas negociações internacionais. Aso alega que a meta para 2020 é mais rígida do que os compromissos assumidos por outros países ricos.
A nova meta excluiu a compra de créditos estrangeiros ou provenientes de projetos florestais para compensar as emissões domésticas, apesar de haver a possibilidade de inclusão em futuras negociações climáticas. Ao contrário, a meta é baseada em incentivos viáveis ligados às políticas e restrições para alcançar cortes de emissão através da economia energética em residências, do uso de automóveis e aparelhos com baixas emissões e da melhoria das fontes de energia renovável, particularmente solar.
A União Européia se comprometeu em cortar as emissões em 20% com base no nível de 1990 até 2020, o equivalente a 14% abaixo do nível de 2005, e 30% se outros países também o fizerem. Nos Estados Unidos, o único país desenvolvido que não faz parte de Quioto, um projeto de lei em tramitação no Congresso tem como objetivo cortar as emissões em 17% abaixo do nível de 2005 até 2020.
(Por Risa Maeda e Chisa Fujioka, Reuters / CarbonoBrasil, 10/06/2009)