Um dos artigos mais primorosos sobre as mentiras contadas para justificar as boas intenções da construção de hidrelétricas foi publicado na edição de junho da revista britânica Ecologist. Não falava do Brasil, mas da destruição dos rios africanos. O jornalista investigativo Khadija Sharife conta que a geração de eletricidade de Moçambique, por exemplo, é suficiente para abastecer o país inteiro, mas paradoxalmente só 9% da população usufruem da energia.
A África já tem 1.270 usinas e quase todas servem diretamente a indústrias multinacionais, fornecem água para mineradoras e irrigação para grandes latifúndios. Cerca de 400 mil pessoas já foram desapropriadas por causa das hidrelétricas e seu acesso à energia continua marginalizado, sem falar nos prejuízos ao acesso aos cursos d’água, que passam a fluir cada vez menos, no continente mais castigado por secas no planeta. Qualquer semelhança não é mera coincidência.
(O Eco, 08/06/2009)