O crescente problema do lixo marinho está afetando os oceanos e as praias do mundo, e as autoridades devem agir agora para resolver e prevenir uma degradação ambiental maior, alerta um informe divulgado segunda-feira (08/06), Dia Mundial dos Oceanos. O novo estudo, “Lixo marinho: um desafio mundial”, foi elaborado em colaboração pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e a organização Conservação Oceânica. É a primeira tentativa de estudar o lixo existente nos 12 principais mares regionais. Os locais estudados foram: o Mediterrâneo, Atlântico Norte, Pacífico noroeste, Mar Vermelho, Golfo de Aden, os mares do sudeste asiático, Pacífico Sul e Caribe.
‘É um grande problema que se agrava’, disse a diretora do Escritório Regional do Pnuma para a América do Norte, Amy Fraenkel, ao apresentar o informe à imprensa. As conclusões do trabalho indicam que, apesar de vários esforços internacionais, regionais e nacionais para reverter a contaminação, alarmantes quantidades de lixo lançadas ao mar continuam pondo em risco a segurança e a saúde da população, ameaçando a flora e a fauna, danificando equipamentos náuticos e distorcendo as áreas costeiras no mundo. “O oceano é nosso sistema de apoio para a vida: fornece grande parte do oxigênio que respiramos, dos alimentos que consumimos e do clima que precisamos para sobreviver. Mas, o lixo continua ameaçando sua saúde”, disse Vikki Spruill, presidente da Conservação Oceânica. “O resultado é que nosso oceano está enfermo e as responsáveis por isso são as atividades humanas”. As atividades em terra são a maior fonte de contaminação.
Na Austrália, as pesquisas sobre as cidades indicam que até 80% do lixo marinho têm fontes terrestres. Estas incluem lixões nas ribeiras dos rios, águas de inundações, fluidos industriais, esgoto não tratado, lixo de praias ou áreas de recreação, uso turístico ou recreativo da costa, pesca e atividades industriais, estaleiros e tempestades naturais. Já as principais fontes de contaminação marinhas são as atividades de pesca e navegação, extração de mineira em alto mar, dejetos legais e ilegais, equipamentos de pesca abandonados, perdidos ou descartados, e os desastres naturais.
O informe inclui uma compilação dos principais dejetos encontrados entre 1989 e 2007. restos de maços de cigarro, papéis e sacos plásticos lideram a lista. O plástico, especialmente os sacos e as garrafas de polietileno tereftalato, é o tipo mais persistente de lixo marinho, e representa 80% de toda coleta feita nos mares regionais. O plástico pode ser confundido com comida por vários animais, incluindo mamíferos marinhos, aves, peixe e tartarugas. Um estudo de cinco anos no Mar do Norte concluiu que 95% dessas aves tinham estomago em seus estômagos. Por outro lado, estudos do plâncton no Atlântico noroeste encontraram pedaços de plásticos que datam dos anos 60.
As atividades relacionadas com o tabaco também estão no topo da lista de fontes de lixo marinho. A Conservação Oceânica concluiu que as pontas de cigarros representa 28% do lixo nas praias do mundo. Os filtros e as embalagens representa 40% de todo o lixo marinho no Mediterrâneo, enquanto no Equador o lixo relacionado com o tabaco constituiu a metade de todo o que foi encontrado na costa em 2005. “O lixo marinho é sinal de um problema maior: o uso e a persistente má administração dos recursos naturais”, afirmou o diretor-executivo do Pnuma, Achim Steiner. “Sacos plásticos, garrafas e outros resíduos nos oceanos e mares poderiam diminuir drasticamente com uma melhor administração e redução do lixo, bem com por iniciativas de reciclagem”, acrescentou.
O setor de turismo e o de recreações têm um impacto significativo na situação dos mares e costas em todo o mundo. Segundo o informe, em algumas das áreas turísticas do Mediterrâneo, mais de 75% da produção anual de lixo são gerados na temporada de verão. As atividades na costa respondem por 58% do lixo marinho no Báltico, e por quase a metade no Japão e na Coréia do Sul. Além disso, o lixo marinho pode causar sérias perdas econômicas, prejudicando embarcações, afetando a pesca, contaminando o turismo e as instalações agrícolas. Por exemplo, na Grã-Bretanha, 92% dos pescadores das ilhas Shetland informaram problemas recorrentes com lixo nas redes, e estima-se que cada embarcação perdeu entre US$ 10.500 e US$ 53.300 por ano por essa causa. Os custos do problema na indústria local podem chegar a US$ 4,5 milhões. O informe propõe adotar multas com dissuasão. Por exemplo, nos Estados Unidos, o navio Regal Princess foi multado em US$ 500 mil em 1993 por jogar no mar 20 sacos de lixo.
“Agora é tempo de ação”, disse Philippe Cousteau, membro da junta de EarthEcho International e da Conservação Oceânica. “Há soluções que todos, em qualquer parte do mundo, podem adotar para fazer uma diferença positiva para nosso planeta de água”, ressaltou. O informe recomenda desenvolver um plano de ação regional sustentável de longo prazo para enfrentar o problema ou adotar um protocolo internacional. IPS/Envolverde
(Por Marina Litvinsky, IPS / Envolverde, 09/06/2009)