Segredo é o uso de nanoestruturas em saquinho de chá. Por enquanto, sistema mede nível de metais no líquido
Poucas pessoas visitam a caixa d’água. Quem tem esse hábito? Para saber como está a água armazenada, só olhando. Ou com um invento que surgiu na Universidade Federal de Pernambuco. Um sensor que indica se a água de uma caixa está limpa ou não. Uma praia pode ser o lugar perfeito para explicar as nanoestruturas. É coisa de criança brincar com areia, é coisa de cientista dividir um grão milhões de vezes e, nesse tamanho, desenvolver todo tipo de pesquisa. Os materiais ganham novas propriedades, novas características. Na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o desafio é transformar algo tão pequeno em instrumentos para o nosso dia a dia. O trabalho começa em um copo d’água do Departamento de Química. Mas podia ser na casa de qualquer pessoa. A preocupação é rigorosamente a mesma.
Parece um saquinho de chá, mas na verdade dentro há um sensor, capaz de dizer se a água de um determinado prédio, ou de uma casa, está poluída ou não, contaminada ou não. “A nanotecnologia dentro de um saquinho de chá, ou seja, o que normalmente um saquinho de chá tradicional faz é você liberar substâncias químicas para sentir o gosto do chá. É o contrário. A água vai ser absorvida pelo saquinho. Ou seja, o saquinho de chá vai beber a água contaminada ou não e vai nos permitir saber se essa água é própria para o consumo humano”, explica o professor Petrus Santa Cruz.
Gel
A nanomolécula, estrela do projeto, está envolvida numa espécie de gel. Ela interage com as substâncias, absorvendo-as. Bastam alguns minutos: retira-se o gel, agora encharcado, para analisá-lo com ajuda de uma luz especial. Com a utilização da radiação ultravioleta, é a luz que o gel emite. Aliás, por causa disso, a gente precisa usar óculos especiais. Para se descobrir exatamente o tipo de contaminação que uma determinada amostra de água contém nós vamos utilizar essa radiação ultravioleta. Só que muito mais concentrada, muito mais localizada.
O brilho é bonito e é exatamente a análise dessa luz que vai revelar as substâncias que estão na água. Na tela do computador surge um sinal, um registro de que algo foi descoberto. "Tudo o que eu quero saber da água está embutido dentro desse sinal. O que vai ser analisado é basicamente esse sinal”, aponta o pesquisador. O programa faz uma comparação com outros padrões e a resposta vem rapidamente. Para ninguém ter dúvida. A mensagem que aparece é essa: “aviso, concentração de ferro acima do padrão de potabilidade da água”.
Na demonstração no laboratório, a experiência foi feita com água coletada da torneira da universidade - tubulação de ferro, antiga. Mas o mesmo experimento poderá ser utilizado em locais como rios que beiram regiões industriais. O objetivo é evitar acidentes que geram tantos prejuízos financeiros e ambientais, como vazamentos de óleo, vazamentos de produtos químicos. No lugar do saquinho de chá, o nanosensor ficaria numa fibra ótica, no rio - monitorando as águas.
“Ele vai estar fazendo essa análise permanentemente e precocemente, antes de atingir o nível máximo. Uma tendência detectada crescente antes que chegue ao limite perigoso para que sejam tomadas providências para evitá-la”, afirma o professor da UFPE. Não apenas a indústria, mas as cidades ao redor podem ser avisadas com antecedência. É um benefício e tanto, com origem tão pequena.
Só metais
Por enquanto, esse sensor desenvolvido pela UFPE só capta metais. Mas, segundo os pesquisadores, ele vai poder detectar outros tipos de poluentes como esgoto, e vai ser acessível a condomínios e prédios.
(G1, com informações do Bom Dia Brasil, 08/06/2009)