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corais aquecimento dos oceanos acidez dos oceanos
2009-06-08

Parece que os corais têm uma complexidade genética que rivaliza com a dos se­res humanos, tendo sofisticados sistemas de comunicação biológica que estão sob a pressão das mudanças globais, e só conseguem sobreviver apoiados pelo ade­quado funcionamento de um intrincado relacionamento simbiótico com as al­gas que vivem no interior de seus corpos - afirmam os pesquisadores em um ar­ti­go publicado na edição desta semana da revista Science.

As rupturas nesses sistemas biológicos e de comunicações são a causa básica do branqueamento do coral e do colapso dos ecossistemas dos recifes de coral por todo o mundo. Virginia Weis, uma zoóloga da Universidade do Estado do Oregon diz: "Já conhe­cíamos por algum tempo o funcionamento em geral dos corais e os problemas que eles vêm enfrentando por causa das mudanças climáticas". "Mas, até bem recentemente, se sabia muito menos acerca de sua biologia fun­damental, da estrutura de seu genoma e da comunicação interna. Só quando en­ten­dermos realmente como sua fisiologia funciona, poderemos saber se eles podem se adaptar às mudanças climáticas, ou se temos algum modo de aju­dá-los".

Corais que criam recifes estão enfrentando severas ameaças ambientais, afirma Clayton Cook, diretor de programa na Divisão de Sistemas Integrativos e Organísmicos da Fundação Nacional de Ciências (NSF), que financiou a pes­quisa. "As mais evidentes são os eventos de branqueamento ligados à elevação das temperaturas dos oceanos e os efeitos da acidificação dos oceanos na cons­trução de recifes". "É um ponto crítico a compreensão das bases celulares e moleculares de como os corais respondem a essas ameaças. Essa pesquisa demonstra a importância de tais processos básicos como respostas imunológicas para essas questões de importância global".

Os corais são pequenos animais, pólipos que existem como indivíduos geneticamente idênticos e podem se auto­defender e matar plâncton para comer. Nesse processo eles também secretam carbonato de cálcio que se torna a base do esqueleto externo onde vivem. Esses depósitos calcificados podem crescer até enormes tamanhos, em longos períodos de tempo, e formar os reci­fes de coral - um dos ecossistemas mais produtivos do mun­do que pode abrigar mais de 4.000 espécies de peixes e muitas outras formas de vida marinha.

Porém os corais não são realmente auto-suficientes. Den­tro de seus corpos eles abrigam algas altamente produ­tivas - outra forma de vida marinha - que pode fixar car­bo­no, usando a energia do Sol para realizar fotossíntese e produzir açúcares. "Algumas das algas que vivem dentro dos corais são surpreendentemente produ­tivas e, em alguns casos, dão 95% dos açúcares que produzem para o coral usar como energia", diz Weis. "Em troca, as algas ganham nitrogênio, um nutri­ente limitado no oceano, se alimentando com os dejetos do coral. É uma rela­ção simbiótica precisamente desenvolvida".

Entretanto, os cientistas estão aprendendo que esse relacionamento também é ba­seado em um delicado processo de comunicação das algas para os corais, dizendo que as algas "pertencem" ao local e que "tudo vai bem". Se não fosse assim, os corais tratariam as algas como parasitas ou invasoras e tentariam matá­-las.

"Agora acreditamos que o que está acontecendo quando a água se aquece ou alguma outra coisa estressa o coral, é que a comunicação das algas para os corais se rompe e a mensagem de tudo-está-bem não consegue passar", ex­plica Weis. "As algas essencialmente saem de seu esconderijo e enca­ram uma resposta imunológica do coral". Weis diz que esse processo de comunicação interna não é diferente de alguns outros processos biológicos encon­trados em pessoas e animais. Uma das revelações da pes­quisa recente, diz ela, é a enorme complexidade da biolo­gia do coral e sua similaridade à de outras formas de vida.

Um gene que controla o desenvolvimento do esqueleto nos seres humanos, por exemplo, é idêntico ao gene exis­ten­te no coral que os ajuda a desenvolver um esqueleto externo - conservado em espécies diferentes pelos mi­lhões de anos desde que os caminhos da evolução de ambos se separou, a par­tir de um ancestral comum. Ainda há muito o que aprender acerca desse processo, se­gundo os pesquisadores, e existem tremendas variações nele. Existem 1.000 espécies de corais e talvez milhares de espécies de algas, todos se misturando e se combi­nando em uma dança simbiótica.

Essa variação, ao menos, traz alguma esperança - assim esperam os cientistas - de que se encontrará novas com­bi­nações que possam se adaptar melhor às condições mu­tantes das temperaturas e acidez dos oceanos, e outras ame­aças. Algumas estimativas sugerem que 20% dos recifes de coral do mundo já estejam mortos e outros 24%, amea­çados.

A acidificação dos oceanos prevista para o próxmo século deve diminuir a calcificação do coral em até 50% e pro­mover a dissolução dos esqueletos do coral - observam os pesquisadores. "Talvez haja alguma coisa que possamos fazer para ajudar a identificar e prote­ger as espécies de coral que possam sobreviver em condições diferentes", argu­menta Weis. "Talvez não tenhamos que somente ficar assistindo os recifes de coral do mun­do desaparecerem".

(National Science Foundation / Chi vó, non pó, com tradução de João Carlos, 28/05/2009)


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