O presidente do Peru, Alan García, enfrenta a difícil tarefa de tentar acalmar o protesto de grupos indígenas da Amazônia que já deixou mais de 50 mortos entre policiais e índios. Na sexta-feira (05/06), os protestos de tribos contra os planos do governo de desenvolver os recursos de petróleo, gás e madeira da área se tornaram violentos, causando a morte de 23 policiais, alguns dos quais foram perfurados por lanças ou tiveram a garganta cortada, segundo o governo. Os líderes indígenas dizem que mais de 30 manifestantes foram mortos, inclusive algumas crianças.
García tentou restabelecer a ordem durante o fim de semana, enviando tropas e decretando o toque de recolher na cidade de Bagua, no norte do país, que tem sido o epicentro dos protestos. O presidente peruano enfrenta sua pior crise desde 2006, quando assumiu o segundo mandato como presidente. Os manifestantes exigem que o governo volte atrás em decretos que, segundo os índios, debilitariam o sistema tradicional de posse comunitária da terra, dividindo-a em lotes de propriedade particular. O governo vem trabalhando intensamente para conseguir concessões para a exploração de petróleo e gás na Amazônia.
Analistas dizem que ceder às exigências dos índios daria a García uma imagem de fraqueza e lançaria dúvidas sobre um acordo de livre comércio com os Estados Unidos - acordo que incentivou o governo a fazer algumas das mudanças legais que causam revolta entre os índios. Por outro lado, reprimir os protestos com mão pesada poderia radicalizar ainda mais a população da área, onde o governo García é especialmente impopular. "Eles não querem entrar lá com muita brutalidade", diz Julio Carrión, cientista político da Universidade de Delaware, nos EUA. Com aprovação popular por volta de apenas 30%, García, um ex-esquerdista convertido às políticas econômicas favoráveis ao setor privado, realmente não está em boa posição para fazer a opinião pública ficar a seu favor, segundo analistas.
Membros do governo tentaram atribuir os protestos a agitadores de fora, inclusive ao líder peruano de esquerda Ollanta Humala, que tem ligações com o presidente venezuelano Hugo Chávez. Carrión diz que a culpa é do próprio governo García, por não ter envolvido a população indígena na discussão antes de divulgar as novas normas de desenvolvimento. "Nos EUA ocorre todo um debate e uma discussão antes de se aprovar uma legislação", diz. "Na América Latina, começa-se aprovando uma lei, e só então é que a discussão começa."
O líder dos manifestantes, Alberto Pizango, passou a esconder-se depois que foi expedido mandato para sua prisão sob acusações que incluem perturbação da ordem pública, posse de armas e homicídio. A hostilidade de ambos os lados e a aparente brutalidade dos assassinatos podem tornar difícil um acordo. O governo diz que dez policiais foram mortos depois de terem se rendido aos índios, em uma estação de bombeamento de um oleoduto.
Segundo analistas, García pode tentar salvar a situação fazendo mudanças no gabinete, inclusive substituindo o primeiro-ministro Yehude Simon. "Houve uma corrente de erros que levou a este massacre sem precedentes", disse o ex-ministro do Interior Fernando Rospigliosi.
(Por Robert Kozak e Matt Moffett, The Wall Street Journal / IHUnisinos, 08/06/2009)