Violentos confrontos entre índios e policiais na Amazônia peruana resultaram nesta sexta (05/06) em pelo menos 34 mortos e 45 feridos, informaram autoridades locais. Os distúrbios, que ocorreram na província de Bagua, começaram quando forças policiais tentaram desocupar uma estrada bloqueada por comunidades locais em protesto contra o governo.
A estrada Fernando Belaunde Terry estava bloqueada há dez dias por causa da anulação por parte do governo de decretos de proteção às terras das comunidades indígenas. Segundo os manifestantes, a medida permitirá a exploração indiscriminada da Amazônia e provocará prejuízos ao meio ambiente e aos nativos.
— Os conflitos de hoje começaram durante a manhã, após os policiais tentarem dispersar os protestos na região da Curva do Diabo, que fica a 900 quilômetros de Lima — disse um porta-voz da polícia.
Os manifestantes responderam à ação da polícia com lanças e pedras, segundo relatos dos moradores locais. No entanto, a polícia sustenta a versão de que tiros teriam sido disparados contra um de seus helicópteros, o que teria provocado a morte de um agente. Este teria sido o início de um intenso tiroteio.
Segundo as autoridades, 25 índios e nove policiais foram mortos durante os combates, e entre os feridos há dezenas de pessoas em estado grave. Entre os mortos estão um professor e um estudante universitário, que acompanhavam as manifestações. Os hospitais da região estão em estado de alerta e recebendo medicamentos e profissionais de outras regiões do Peru. O presidente do país, Alan García, responsabilizou “pseudodirigentes da região e interesses estrangeiros” pelo ocorrido.
— Por trás desse terrível episódio está um trabalho de desinformação na região, fomentado por interesses estrangeiros que não querem o desenvolvimento do Peru, e por pseudodirigentes locais — disse o presidente.
Já o líder indígena Alberto Pizango acusou o governo de genocídio.
— Os nativos só possuem arcos e flechas. Meus irmãos faziam um protesto pacífico quando começaram a ser atingidos por tiros — disse.
O líder político ultranacionalista Ollanta Humala, que disputou em 2006 as eleições presidenciais contra García, também responsabilizou o atual presidente pelo episódio e pediu a revogação dos decretos do governo. Após os confrontos, o governo determinou toque de recolher na região e reforçou o policiamento.
— Temos que criar um clima de calma e de tranquilidade para que o diálogo seja retomado — disse o chanceler peruano, José Antonio García Belaunde.
(O Globo / IHUnisinos, 06/06/2009)