Com frases de efeito do tipo "estão pedindo meu pobre pescocinho", o ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) disse nesta quinta (04/06) que ficará no cargo e voltou a criticar os ruralistas. Já a senadora Kátia Abreu (DEM-TO) afirmou não ter mais condições, como presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), de dialogar com Minc. Há duas semanas, o ministro confronta ruralistas a quem chamou de "vigaristas", levando a senadora a pedir sua demissão. "Estão querendo tirar uma picanha do Carlinhos Minc", disse ontem durante audiência pública na Câmara. Apesar das ironias, ele admitiu que se excedeu no episódio.
Kátia Abreu, que estava ontem no Paraná, onde participou de conferências sobre agronegócio, disse que "esse cidadão [Minc] tem preconceito explícito contra nós". Conosco, o diálogo [com Minc] é praticamente impossível. Minha agenda não tem mais espaço para ele", disse ela. "Ninguém chama ninguém de vigarista à toa."
O ministro resolveu partir para o ataque depois de uma série de derrotas sofridas na queda de braço com setores do governo. Uma importante foi a redução, determinada por Lula, na taxa de compensação ambiental cobrada de empresas. Ontem, ele afirmou ter sido enquadrado por Lula ainda na semana passada. "Como ministro obediente em relação ao meu chefe, desde que não seja para dar licença [ambiental] sem cumprir as leis, não farei mais polêmicas públicas com os ministros", disse Minc.
Abreu afirmou que Minc não deve ocupar cargos públicos para defender interesses de uma classe. "O ministro do Meio Ambiente tem que se preocupar com o ambiente e não com os ambientalistas, assim como o ministro Reinhold Stephanes [Agricultura] deve se preocupar com a produção e não com os ruralistas." Em outro momento, Minc diz que vai procurar Abreu para conversar. "Eu sempre o respeitei. Quem encerrou e fechou as portas foi ele", disse ela.
Minc voltou ontem mesmo ao tom crítico. "O país vive um momento grave e há quem queira estraçalhar a legislação", disse. Segundo o ministro, um "senhor fez um estudo dizendo que o Brasil é uma grande unidade de conservação", sem espaço para agricultura. "O Ministério do Meio Ambiente refuta esses dados como mentirosos", afirmou. Essa crítica já havia sido feita e, nessa ocasião, Minc disse que "o ministro Stephanes sempre leva [com ele] um senhor que fez" o estudo sobre engessamento.
Stephanes está na Rússia. Sua assessoria informou que faz parte da agenda apresentar estudos ao presidente referentes à sua área e que ele não rebaterá declarações de Minc.
A ministra Dilma Rousseff negou ontem, em São Paulo, que exista uma "briga ambiental" entre integrantes do governo. "Essa briga não existe. São diferentes óticas que todo governo tem. Cada um dá a sua ótica. Agora, tem que haver um entendimento", disse ela.
(Folha de S. Paulo, 05/06/2009)