Esta semana comemora-se o Dia Mundial da Ecologia e do Meio Ambiente. Dia 5 de junho é o marco para a reflexão e ação global para temas relacionados às questões ambientais. Mas realmente não temos motivo para festejos. Proliferam os eventos e seminários de governo e empresas. É o circo da farsa. Num país que Tucanos gostam de eucaliptos e Lulas de soja e cana-de-açúcar, nada pode ser mais estranho.
Na semana em que a senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), dona de uma fazenda de 4.500 hectares, onde cria cerca de 3 mil cabeças de gado e planta soja, propõe o afastamento do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, por ter chamado os ruralistas de vigaristas ou algo do tipo. É estranho.
Num Estado onde o secretário do Meio Ambiente, sr. Berfran Rosado, que é o presidente do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema), também o coordenador da ABEMA, Associação Brasileira de Entidades de Meio Ambiente, e quando deputado estadual era líder da "Bancada da Celulose"; como pode-se falar em política ambiental? Com um Conselho Estadual do Meio Ambiente que tem 38 vagas, onde 5 são das organizações da sociedade civil, representados por entidades ambientalistas, e que tem uma ong empresarial, chamada Amigos da Floresta, que sempre defende interesse do setor empresarial; pode haver algo mais perverso?
E ainda se fala em Semana do Meio Ambiente. Está em curso o maior ataque à legislação ambiental da história. São medidas que buscam garantir empreendimentos de infra-estrutura e o agronegócio, além do estímulo ao consumo. São o carro-chefe da economia desenvolvimentista do Brasil Colônia Pós-moderno.
Pouco avançamos no que se refere à política ambiental. Travamos diariamente um embate com as forças que constantemente colocam a natureza como fonte de matéria prima e sumidouro de rejeitos. Um embate que transcorre a história da civilização ocidental e que se acentua com o implemento das formas de produção e massificação dos meios de consumo. Criando um abismo intransponível entre aqueles que têm acesso aos bens naturais, aqueles que exploram mais de 80% de todas as riquezas do planeta, contra aqueles que devem se contentar com os rejeitos e descartes de todo processo industrial.
Vivemos num mundo de desigualdades sociais, historicamente revelado pela supremacia da força das guerras, dos impérios expansionistas, dos líderes megalomaníacos, das castas e luta de classes. Um mundo que se revela mais excludente quando se agravam os efeitos negativos das atividades humanas. Uma sociedade que por sua dinâmica funcional e lógica mercantil é naturalmente construída de forma excludente, e acentua este caráter pelos efeitos que traz e pela dimensão que toma.
A exclusão ambiental é revelada por aqueles que não têm acesso aos recursos básicos como água e terra, ou aquelas necessidades ligadas ao modelo urbano, como moradia, transporte público, saneamento ou saúde. O ambientalismo de classe que coloca o homem máquina como um agente transformador do meio, suprimindo o homem-carne e todas as outras formas de vida. A ecologia do excluído que entende a natureza de forma utilitarista.
Neste dia 05 de Junho devemos propor a "Ecologia do Oprimido", parafraseando o poeta, pensador e teatrólogo Augusto Boal, morto recentemente. Uma ecologia que tenha voz, que tenha vez; uma ecologia planetária, cidadã, transformadora e crítica. Uma ecologia minha, sua, do cidadão comum. Uma ecologia das ruas, uma ecologia dos povos e daqueles que lutam em defesa de todas as formas de vida.
(Por Felipe Amaral*, Agência Chasque, 04/06/2009)
* Felipe Amaral é ecólogo e integrante do Instituto Biofilia