Poderia realmente uma única grande erupção vulcânica lançar mais gases do efeito estufa na atmosfera que todos os gases emitidos pela humanidade ao longo da história?
O argumento de que as emissões de carbono geradas por atividades humanas são uma gota no oceano se comparadas aos gases do efeito estufa emitidos por vulcões, circula pelo mundo da especulação há anos. E embora possa soar plausível, a ciência não consegue sustentá-lo. De acordo com o Instituto de Pesquisas Geológicas dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês), os vulcões do planeta, tanto os terrestres quanto os localizados no leito oceânico geram, todo ano, cerca de 200 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2), enquanto nossas atividades industriais e frota de veículos emitem cerca de 24 bilhões de toneladas, no mundo inteiro, anualmente. Apesar dos argumentos contrários, as observações mostram que os gases emitidos pelos vulcões correspondem a menos de 1% dos gases do efeito estufa gerados pelas atividades humanas.
Outra indicação de que as emissões humanas são gigantescas, se comparadas com as naturais, é o fato de níveis de CO2 atmosférico medidos por estações de coleta no mundo todo ─ criadas pelo Centro de Análise e Informação sobre o Dióxido de Cabono, financiado pelo governo americano ─ estarem crescendo continuamente, independentemente da ocorrência de erupções vulcões significativas em alguns anos. “Se a afirmação de que erupções vulcânicas individuais provocam aumento das concentrações de CO2 fosse verdadeira, então os registros desse gás deveriam mostrar picos de emissão – correspondendo às erupções ocorridas,” explica Coby Beck, jornalista especializado que escreve para o site Grist.org. sobre meio ambiente “No entanto os registros são bastante regulares, sem evidências de grandes variações.”
Além disso, alguns cientistas acreditam que erupções vulcânicas extremas, como a do monte Santa Helena, em 1980, e do monte Pinatubo, em 1991, provocam, na verdade, períodos curtos de resfriamento global e não de aquecimento, uma vez que o dióxido de enxofre (SO2), cinzas e outras partículas presentes no ar e na estratosfera refletem parte da energia solar de volta para o espaço, impedindo que penetrem na atmosfera terrestre. O SO2, que se transforma em um aerossol de ácido sulfúrico assim que atinge a estratosfera, pode permanecer lá por até sete anos e exercer um efeito refrigerador muito tempo depois de a erupção vulcânica ter ocorrido.
Os cientistas que rastreiam os efeitos da grande erupção de 1991 do monte Pinatubo, nas Filipinas, descobriram que o efeito geral da explosão foi um resfriamento global, em cerca de 0,5° C, após um ano, apesar do aumento da emissão de gases do efeito estufa decorrente de atividades humanas e do El Niño (uma corrente de água quente que periodicamente atinge o litoral do Equador e do Peru), que provocaram aquecimento da superfície durante o período de 1991-1993, englobado pelo estudo.
Mas houve uma interessante reviravolta da questão. Pesquisadores britânicos publicaram um artigo na Nature, no ano passado, mostrando como a atividade vulcânica pode contribuir para o derretimento da capa de gelo da Antártida ─ mas não como consequência de qualquer emissão humana ou natural. Hugh Corr e David Vaughan, pesquisadores British Antartic Survey acreditam que vulcões subterrâneos podem estar derretendo camadas de gelo de baixo para cima, da mesma forma que temperaturas mais elevadas das emissões geradas por humanos na superfície estão dissolvendo as camadas de cima para baixo.
(Por Steve Schlemmer, Scientific American Brasil, 28/05/2009)