Atualmente, 14% das emissões globais estão relacionadas às atividades pecuárias na Amazônia. Essa constatação, afirmada por Paulo Adário, coordenador da campanha de Amazônia do Greenpeace, mostra a emergência em se criar ações para combater essas atividades, que destroem a floresta e afeta, indiretamente, o mundo. Pensando nisso, o Greenpeace lançou segunda-feira (01/06) o estudo A Farra do Boi na Amazônia. "Queremos, com o estudo, conseguir o mesmo feito de quando lançamos o relatório sobre a soja na Amazônia, que logo pouco depois o governo declarou moratória", explica André Muggiati, ativista do Greenpeace e responsável pelo estudo.
O relatório, feito após três anos de investigações sobre a indústria da pecuária brasileira, mostra que, apesar de ser o maior vetor de desmatamento no mundo e principal fonte de emissões de gases efeito estufa no Brasil, o setor pecuário possui como principal financiador e sócio o Estado brasileiro, por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). "O banco tem investido nos principais grupos frigoríficos do Brasil. O Bertin, maior exportador de carne, possui 27% de seu capital oriundo do BDNES", afirma Muggiati.
Entre 2007 e 2009, as cinco maiores empresas da indústria pecuária brasileira, responsáveis por mais de 50% das exportações de carne do país, receberam US$ 2,65 bilhões do BNDES. Os três frigoríficos que receberam a maior parte do investimento público foram o grupo Bertin, um dos maiores exportadores de couro do mundo; a JBS, a maior comercializadora de carne, com controle de pelo menos 10% da produção global; e a Marfrig, a quarta maior empresa de carne do planeta.
Cadeia
Outra constatação do estudo foi a de que empresas multinacionais como Nike, Adidas, BMW, Gucci, Timberland, Honda, Wal Mart e Carrefour impulsionam, involuntariamente, o desmatamento da Amazônia. "Toda a rede está contaminada", alerta o Muggiati. Segundo ele, grandes grupos, como Bertin, compram gado de fazendas da Amazônia e exportam couro e produtos de origem do boi para empresas que estão na China, Itália, Estados Unidos e outros países. "Entramos em contato com muitas dessas empresas para mostrar o resultado de nosso estudo. Uma boa parte delas não sabe que está envolvida", diz o ativista.
Após o lançamento do estudo, o Greenpeace pretende pressionar o governo e as empresas envolvidas para que sejam ambiental e socialmente responsáveis. "Os frigoríficos têm que parar de comercializar com as fazendas envolvidas com o desmatamento, as marcas internacionais têm que exigir que esses frigoríficos não se relacionem com as atividades ilegais e o governo precisa parar de financiar essas ações", afirma Muggiati.
(Por Thais Iervolino, Amazonia.org.br, 02/06/2009)