Foi lançado nesta terça-feira (02/06) no Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, a publicação Compêndio dos Indicadores de Sustentabilidade. “O Produto Interno Bruto (PIB) não é mais bússola, pois ele não computa a parte social, ambiental e econômica”, diz Ana Louette, pesquisadora e organizadora da publicação. Ela diz ainda que, se pudesse, daria outro nome para o PIB: Indicador de Riquezas ou Indicador de Prosperidade, termo usado no Reino Unido.
O PIB foi lançado no pós-guerra e era uma ferramenta para medir o crescimento econômico, e não o progresso, e que este nunca sofreu atualizações. “O PIB é uma bússola torta, destruindo o planeta e desviando dos objetivos reais, que é o nosso bem-estar”, conclui Ladislau Dowbor. Em sua fala, citou o exemplo dos Estados Unidos, em que o PIB cresceu 79%, mas a qualidade que é medido pelo GPI ficou apenas em 2%. Para ser ter uma ideia de como o PIB é perverso, a destruição da Amazônia é uma atividade que faz avançar o PIB, pois a floresta em pé não contabiliza, apenas se a madeira for derrubada e se tornar um móvel ou uma mercadoria.Ou seja, o PIB não contabiliza as perdas do patrimônio natural, mas contabiliza a destruição organizada. Desta forma, os índices elevados do PIB não são garantia de desenvolvimento sustentável.
O Compêndio de Indicadores de Sustentabilidade de Nações conta um pouco sobre a história da economia. Segundo o livro, no início do século passado os economistas clássicos eram todos filósofos morais. Para eles, a economia era orientada para o bem comum, para a felicidade humana. Essa visão mudou quando surgiu o pensamento neoclássico, no fim, do século XIX. Nesse momento acontece uma coisa curiosa: a economia deixa de ser filosófica para ser matemática, com isso os neoclássicos ficaram sem saber o que fazer com as necessidades humanas e as descartaram e passaram a medir a sociedade pelo que ela compra no supermercado. Esse cálculo permitia muitos números, mas todos fora da realidade.
Precisamos de um indicador que leve em conta não somente os bens e produtos, mas também todas as riquezas naturais e humanas. Para Louette não é possível o crescimento permanente do PIB. Hoje se fala da teoria do Decrescimento Sustentável, um conceito político, mas também econômico, que entende que o aumento constante do Produto Interno Bruto PIB não é sustentável para os ecossistemas globais. “Crescer por crescer é uma célula cancerígena”, conclui Dowbor.
Formigas se movem
Uma das ideias de revisão do PIB está em andamento desde meados do ano passado. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, encomendou a um grupo de 27 renomados especialistas - entre eles os ganhadores do prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz (2001) e Amartya Sen (1998) - uma reforma da métrica. Matemáticos, estatísticos, economistas ambientais e estudiosos da pobreza reforçam o time, que ficou conhecido como Comissão Stiglitz-Sen. É com muita expectativa que se espera o resultado que deve sair no final deste mês de junho.
A comissão trabalha em três frentes. Uma delas busca atualizar o PIB padrão, de modo que a medida se torne mais abrangente e mais relevante para os formuladores de políticas públicas. Outra tenta incorporar novas medidas de sustentabilidade ambiental aos dados e, assim, mensurar o impacto da economia sobre os ecossistemas. Por último, o grupo trabalha na criação de novos indicadores para avaliar qualidade de vida e bem-estar.
(Por Glória Vasconcelos, Envolverde, 03/06/2009)