Tradicional para moradores e turistas do Rio Grande do Norte, o caranguejo está cada vez com menos espaço no seu habitat natural: o mangue. No encontro do rio com o mar, o cenário é de destruição. Muitas das áreas públicas antes ocupadas por manguezais foram transformadas em viveiros privativos de camarão ou conjuntos habitacionais. Outra preocupação é a crescente poluição dos Rios Potengi e Jundiaí, séria ameaça ao ecossistema de mangues. A atual onda de devastação alerta os ecologistas quanto ao risco de extinção da espécie mais comercializada no Estado: o caranguejo uçá.
Por ser ecossistema típico de estuários, os mangues sofrem as consequências de qualquer ação humana ou natural aos rios e oceanos. A retirada das matas ciliares, o aquecimento global, a especulação imobiliária e os empreendimentos comerciais, principalmente os viveiros da carcinicultura, são motivos para que o mangue deixe de existir. Segundo o ecólogo especialista em ecossistema de mangues, Alexander Ferreira, a devastação é uma questão capitalista. “É muito mais lucrativo para o criador transformar um mangue, que é uma área pública, num viveiro particular, porque lá a própria movimentação da maré troca a água velha pela nova e ele não precisa investir em equipamentos como bombas”, esclareceu.
Para o ecólogo, o problema virou uma “bola de neve”, porque a poluição ao mesmo tempo que ameaça o mangue, também é acentuada com a devastação desse ecossistema. “Cada mangue destruído resulta em várias plantas de tratamento de água natural a menos”, explicou Alexander Ferreira.
No município de Arês, o que se vê são viveiros por todos os lados. Em Macaíba e Natal, a poluição e o aumento populacional devastaram quase toda a área de mangues. No Rio Potengi, o exemplo é clássico: as casas estão cada vez mais próximas ao leito dos rios e o mato que acompanhava as águas foi devastado. Sem proteção, as chuvas empurram areia e lixo para dentro do mangue, ameaçando a sobrevivência do espaço.
(Tribuna do Norte / ANDA, 31/05/2009)