Uma comissão independente formada por quatro professores da UFPI (Universidade Federal do Piauí) diz que a barragem Algodões 1, que rompeu no último dia 27 em Cocal (a 282 km de Teresina), estava sem manutenção havia cinco anos. "Conversamos com pessoas que moravam perto da barragem e que ajudaram na construção dela. Nos disseram que não havia manutenção e constatamos que o vertedouro estava obstruído. Não tinha por onde escorrer a água", diz o engenheiro civil e chefe do Departamento de Recursos Hídricos da UFPI, Manoel Coelho Soares Filho, integrante da comissão.
Segundo o engenheiro, se houvesse uma manutenção frequente do vertedouro, que tem como objetivo escoar o excesso de água da barragem, o acidente poderia ter sido evitado. Soares Filho afirma ainda que a comissão, formada por três engenheiros e por um geólogo, apresentará um relatório que, posteriormente, poderá ser usado nas investigações que apuram o motivo do rompimento da barragem.
O governo diz que sete pessoas morreram no acidente. Duas irmãs, de um e nove anos, estão desaparecidas. Nesta terça-feira (02/06), a assessoria da Emgerpi, empresa estatal responsável pela Algodões 1, limitou-se a informar que a cada três meses técnicos do órgão fiscalizam as barragens do Estado.
Em agosto do ano passado, os técnicos registraram defeitos na barragem e o governo abriu uma licitação para contratar uma empresa para fazer os reparos. Como ninguém concorreu, o governo contratou em fevereiro a empresa Geoprojetos por R$ 273.400, para a elaboração do projeto executivo no prazo de cinco meses. Segundo a Emgerpi, o valor não foi pago porque o trabalho não foi concluído.
Nesta quarta-feira (03), o promotor Maurício Gomes de Souza, da comarca de Cocal, deve ir a áreas onde famílias ainda estão isoladas para apurar a informação de que corpos foram enterrados clandestinamente, sem a comunicação de autoridades. "O número de mortos pode ser maior do que o divulgado", diz.
(Por Afonso Benites, Folha Online, 02/06/2009)