Lideranças e parlamentares ruralistas foram nesta terça (02/06) ao ataque contra o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) denunciou Minc ao Ministério Público Federal e à Comissão de Ética Pública do governo. E os deputados da Comissão de Agricultura da Câmara aprovaram a convocação do ministro para explicar declarações em que classificou os ruralistas de "vigaristas" durante ato ocorrido na semana passada. Sob o comando da senadora Kátia Abreu (DEM-TO), a CNA pediu a demissão de Minc por considerar que ele agrediu a "dignidade, a honra e o decoro" dos ruralistas. Na denúncia por crime de responsabilidade encaminhada ao procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, a CNA solicitou a formalização do pedido no Supremo Tribunal Federal (STF). Se for aceito, o pedido poderia provocar o afastamento de Minc do cargo.
O ataque dos ruralistas gerou uma reação imediata dos neoaliados de Minc na agricultura familiar. A Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) divulgou nota de apoio à permanência do ministro em que elogiou a "coragem política" do ministro para "enfrentar tabus ideológicos e interesses poderosos do setor agroexportador". A Contag atribuiu os ataques a Minc a "avanços obtidos" no tratamento diferenciado aos produtores familiares e assentados da reforma agrária.
Os ruralistas argumentam que o ministro Minc teria cometido "crime de responsabilidade contra a probidade na administração" e desrespeitado a "honra e a imagem" do setor rural. "Quero que ele seja punido. Ele não tem equilíbrio para ser ministro", declarou a senadora ruralista. "O ministro foi preconceituoso. É o mesmo que existe contra o negro e contra o índio. É crime." Em nota, a CNA afirmou que as declarações de Minc foram "incompatíveis com a impessoalidade, o decoro e a dignidade que o exercício do cargo requer". "Ao revelar posição hostil aos produtores do setor rural, (Minc) evidencia parcialidade com que tem se conduzido à frente do ministério", registrou o texto.
Ao comentar dados sobre desmatamento na Amazônia, o ministro Carlos Minc respondeu aos ataques com ironia. "Ao que me conste, o Brasil é comandado pelo presidente Lula e não pelos ruralistas. Aliás, se fosse pelos ruralistas, não haveria o Bolsa Família e, sim, o Bolsa Latifundiário. Quanto à minha manutenção no cargo de ministro, felizmente, é o presidente Lula que resolve isso. E ele já resolveu: fico até o fim do governo". Em tom de provocação, Minc devolveu: "Os ruralistas estão desesperados, querem me tirar do governo. Podem me insultar e continuar pedindo a minha cabeça, mas vou continuar governando."
A ofensiva dos ruralistas é, segundo o ministro, uma resposta ao "pacto" firmado entre a área ambiental e a agricultura familiar. Para ele, durante anos os grandes produtores "aterrorizaram" os pequenos agricultores em relação às exigências ambientais. "Isso (o pacto entre ambientalistas e agricultura familiar) foi uma derrota para os ruralistas", disse Minc. E avançou em tom irônico: "A senadora Kátia Abreu, inclusive, é uma pessoa muito simpática, muito agradável. A única grande derrota dela foi essa, o que, talvez, a tenha tirado do sério".
O ministro Carlos Minc reafirmou que os ruralistas estão "usando" os agricultores familiares como "massa de manobra" para defender seus interesses nas discussões sobre a reforma do Código Florestal Brasileiro. Minc disse estar disposto a firmar um pacto com os médios e grandes produtores, desde que mantendo a diferenciação para os pequenos. "Reconhecemos que o setor tem grande importância para o país, com as exportações, os empregos. Mas tem que ser tratado de forma diferente."
(Por Mauro Zanatta e Cristiane Agostine, Valor Econômico, 03/06/2009)