Uma equipe de team cientistas dos Estados Unidos, Alemanha, Rússia e Áustria acaba de retornar de uma expedição de perfuração de seis meses a um lago congelado da Sibéria: Lago El'gygytgyn ("Lago E" para simplificar). O Lago E foi criado a 3,6 milhões de anos atrás quando um meteoro com quase um quilômetro de largura atingiu a terra e formou a cratera com 20 quilômetros de diâmetro. Lá, os pesquisadores coletaram as mais longas amostras de núcleos de sedimentos já recolhidas na região do Ártico. Segundo os cientistas, as informações contidas nos núcleos têm uma importância sem par para a compreensão das mudanças climáticas no Ártico.
Núcleos extraídos de três diferentes locais perfurados por sob o congelado Lago E, têm mais de 30 vezes o comprimento dos núcleos da camada de gelo da Groenlândia, de acordo com a geocientista Julie Brigham-Grette da Universidade de Massachusetts em Amherst, a principal cientista dos EUA no projeto. A equipe de pesquisa vai comparar esse registro do Ártico com outros registros de amostras colhidas no oceano e em terra em latitudes menores para compreender melhor as mudanças climáticas globais.
Quase 3,5 ton de núcleos de sedimentos serão transportados, em condições controladas de temperatura, em aviões especialmente preparados da Sibéria para São Petersburgo no início de junho, e daí para um laboratório na Alemanha para serem analisados por paleoclimatologistas. As metades de núcleos catalogadas seguirão, mais tarde, para a instalação de LacCore da Universidade de Minnesota, onde serão preservados em criogenia.
Brigham-Grette diz que a equipe recolheu um total de 385 metros de sedimentos; estes sedimentos representam um registro de aproximadamente 3,5 milhões de anos. Paul Filmer, diretor de programa da Divisão de Ciências da Terra da Fundação Nacional de Ciências (NSF), declara: "O estudo dos sistemas de alta latitude é de grande importância para uma compreensão do clima na Terra em todas as latitudes. O primeiro ponto de interesse é estabelecer como e por que o Ártico evoluiu de um ecossistema quente e coberto por florestas para um ecossistema de permafrost entre dois e três milhões de anos atrás". A Divisão de Ciências da Terra participou da expedição juntamente com o Escritório de Programas Polares da NSF.
O registro contínuo coletado neste lago singular "nos proporciona um modo de observar as mudanças climáticas glaciais/inter-glaciais do passado", explica Brigham-Grette. "Os ciclos quentes e frios da Terra, no ultimo milhão de anos, variou a cada 100.000 anos em certas ocasiões. Antes disso, no entanto, as mudanças climáticas, especialmente nas altas latitudes, variou em ciclos de 41.000 e 23.000 anos. Os registros do Lago E irão mostrar o que causou essa aceleração no processo de mudança climática da Terra".
Abaixo dos sedimentos do lago, os núcleos perfurados no leito rochoso vão porporcionar aos geólogos uma rara oportunidade de estudar as rochas derretidas pelo impacto de um meteoro, vindas de um dos locais de impacto de meteoro melhor preservados na Terra e o único formado sobre rocha vulcânica rica em silício. A equipe recolheu aproximadamente 40 metros do início da história do lago, no quente período do Pliocene Médio. Esse período geológico, segundo Brigham-Grette, é fascinante por ser um possível exemplo do clima futuro.
Os resultados iniciais das perfurações ainda são limitados. Os núcleos de sedimentos não puderam ser abertos no campo por causa da natureza remota do local de perfuração e das más condições de transporte terrestre no local. Durante as perfurações-piloto, realizadas em novembro, os cientistas recolheram 141 metros de sedimentos que exibiam depósitos de leque aluvial e lacustres no permafrost na borda Oeste do lago, fora do talik (solo não congelado em uma área de permafrost). Após a perfuração, o buraco da mesma ficou permanentemente dotado de instrumentos para futura monitoração da temperatura do solo, como parte da Rede Global Terrestre para o Permafrost.
O Projeto de Perfuração do Lago El'gygytgyn é um esforço internacional financiado pelo Programa Intercontinental de Perfurações Continentais (International Continental Drilling Program= ICDP), a Divisão de Ciências da Terra e o Escritório de Programas Polares da Fundação Nacional de Ciências dos EUA, o Ministério da Educação e Pesquisa (BMBF) da Alemanha, Alfred Wegener Institute (AWI), GeoForschungsZentrum-Potsdam (GFZ), o Ramo do Extremo Oriente da Academia Russa de Ciências, a Fundação Russa para Pesquisa Básica e o Ministério de Ciência e Pesquisas da Áustria.
As principais instituições russas envolvidas incluem o Instituto Nordestino Interdisciplinar de Pesquisas, o Instituto de Geologia do Extremo Oriente e o Instituto Roshydromet de Pesquisas Árticas e Antárticas. O sistema de perfurações profundas para as operações no Ártico foi desenvolvido pela DOSECC Inc.; a manutenção dos núcleos ficou a cargo da Lac-Core da Universidade de Minnesota.
O projeto foi desenvolvido e organizado pelos investigadores principais de quatro países em colaboração: Julie Brigham-Grette (cientista-chefe pelos EUA, Universidade de Massachusetts em Amherst), Martin Melles (cientistachefe pela Alemanha, Universidade de Colônia), Pavel Minyuk (cientista-chefe pela Rússia, NEISRI Magadan) e Christian Koeberl (cientista-chefe pela Áustria, Universidade de Vienna).
(National Science Foundation / Chi vó, non pó, com tradução de João Carlos, 29/05/2009)