Os chamados fundos de investimentos sustentáveis, que privilegiam papéis de empresas com boas práticas socioambientais e de governança corporativa, crescem mais nos países emergentes do que no resto do mundo. O patrimônio administrado em fundos com esse perfil cresceu 400% entre 2003 e 2008 e chegou a US$ 50 bilhões no ano passado. Nos países desenvolvidos, essa indústria cresceu 70% no período.
Esse patrimônio pode ser ainda maior, de US$ 300 bilhões, se forem considerados os fundos tradicionais que analisam as variáveis sociais, ambientais e de governança corporativa na escolha dos investimentos. É o que mostra um estudo do International Finance Corporation (IFC), braço do Banco Mundial para investimentos privados.
Foram pesquisados 515 gestores de ações em todo o mundo, sendo que 177 deles estão localizados no Brasil, China, Índia e Coréia do Sul. Quase a metade (46%) das gestoras de recursos nesses países possuem políticas de análise socioambiental dos investimentos - embora apenas 7% dos fundos sejam classificados como ‘sustentáveis’. “Esse crescimento é fruto de uma visão mais abrangente de sustentabilidade, pois considera investimentos de longo prazo e em companhias mais sólidas, com padrões de governança”, diz Mário Fleck, presidente da Rio Bravo, gestora de recursos mencionada no estudo.
Brasil
No Brasil, a indústria de fundos sustentáveis tomou corpo em 2005, com a criação do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), da Bovespa. Chegou a movimentar R$ 2 bilhões no início de 2008, antes do agravamento da crise financeira, que provocou perdas na bolsa de valores. Hoje, 12 fundos com esse perfil administram um patrimônio de R$ 1,1 bilhão. “Os fundos sustentáveis registraram perdas com a crise. Mas o cenário agora é de recuperação”, diz Pedro Villani, gestor dos fundos Ethical, do Banco Real, que contam com patrimônio de R$ 500 milhões.
O HSBC, que possui um fundo que replica a carteira do ISE, deve lançar, no segundo semestre, um novo produto com esse perfil. “Como a carteira do ISE concentra bancos e empresas de energia, a atratividade do fundo tem ficado aquém do esperado”, diz Eduardo Favrin, diretor de renda variável do HSBC Asset Management. “A ideia é lançar um produto que preserve a matriz de governança e sustentabilidade, mas mais abrangente em setores.”
Para Roberto González, assessor de sustentabilidade da Apimec, entidade que representa os profissionais do mercado de capitais, a indústria nacional de fundos ‘verdes’ não deve assistir a uma maior expansão nos próximos anos. A tendência, aponta, é de que outros agentes financeiros, como fundos de private equity (que compram participações em empresas) e capital de risco passem a realizar seus investimentos levando em consideração o quesito sustentabilidade das empresas. “Esse olhar de sustentabilidade não é só investir em companhias de energia limpa. E sim a aplicação do conceito na estratégia do negócio, seja de que setor for.”
(Por Andrea Vialli, Sustentabilidade / Envolverde, 02/06/2009)