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passivos da pecuária desmatamento da amazônia frigoríficos/agroindústrias
2009-06-02

O pequeno avião sobrevoa uma paisagem fascinante de pastagens verdes entremeadas por trechos de floresta, mas Wayne Lindbergh mantém o olho colado em seu laptop. Abaixo, onde um mapa na tela do computador indica que havia floresta no ano passado, o descampado marrom revela uma queimada recente. "Tudo isso é novo, deste ano", diz o integrante do Greenpeace, com fones de ouvido na cabeça enquanto aponta para a tela mostrando os mais recentes dados de satélite sobre desmatamento.

Em breve, a área será pasto para milhares de cabeças de gado criados nesta fazenda no Pará, num exemplo do desmatamento ilegal atribuído pelos ambientalistas a pecuaristas. A propriedade rural representa apenas uma minúscula parte do rebanho bovino do país --o maior do mundo, com 200 milhões de cabeças. Cerca de 70 milhões de bois e vacas estão na Região Amazônica, área que registrou o maior crescimento dessa indústria nos últimos anos. Ativistas dizem que ela prosperou em grande parte por causa da terra barata, da ilegalidade disseminada e da fraca presença do Estado.

Animados pelo sucesso obtido em persuadir a indústria da soja brasileira a evitar o desmatamento, os ambientalistas esperam agora usar o poder do consumidor para conter a pecuária. Alguns meses antes das negociações climáticas mundiais marcadas para dezembro, eles apontam evidências de que a pecuária é de longe o principal motor para o desmatamento, que faz do país o quarto maior emissor de carbono do mundo.

O Greenpeace, que diz que o gado da Amazônia é o maior propulsor de desmatamento do mundo, lançou uma campanha na segunda-feira associando o desmatamento ilegal aos produtos bovinos vendidos por empresas na Europa e nos Estados Unidos. A campanha contra os produtores de soja de 2006, que associou o desmatamento a grandes empresas como o McDonald's, teve como resultado uma moratória de três anos da soja nas áreas desmatadas.

Tarefa difícil
Repetir o sucesso com a pecuária, no entanto, será mais difícil, dizem ativistas. A indústria da carne, há muito tempo no centro de uma amarga disputa por terra na Amazônia, é um opositor poderoso, percebido como de importância estratégica pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os grandes frigoríficos brasileiros JBS, Marfrig e Bertin expandiram-se no exterior e tornaram-se players globais. Nos últimos cinco anos, têm levado a industrialização à pecuária na Amazônia.

Grupos ambientalistas dizem que, com bilhões de reais em empréstimos à indústria, o governo financia a destruição ilegal da floresta, mesmo que tenha estabelecido como prioridade reduzir o desmatamento à metade ao longo da próxima década. Eles dizem que os abatedouros, aproveitando-se da confusão judicial sobre a terra e a ausência do Estado, raramente verificam se a carne vem de áreas legalizadas. "É o papel da indústria fazer a distinção", disse André Muttiati, outro ativista do Greenpeace. "A indústria pode exigir das fazendas que não desmatem mais." Os frigoríficos negam ter relação com o desmatamento ilegal. Em resposta a questões da Reuters, a Bertin disse que cortaria os fornecedores que estivessem devastando a floresta de forma ilegal.

As décadas nas quais colonos, agricultores e especuladores agiram na virtual ausência do Estado deixaram um legado de conflito, ilegalidade e desconfiança na Amazônia, mesmo após a presença de grandes empresas com acionistas estrangeiros. De volta à fazenda na região central do Pará, onde a fronteira agrícola encontra-se com a ainda vasta e virgem floresta, a clareza fornecida pelo avião e pela informação do satélite é rapidamente ofuscada.

Em um assentamento ao lado do rio Xingu, índios da tribo Parakanã lembram-se de ver milhares de vacas e bois confiscados do outro lado do rio no ano passado --parte de uma megaoperação do governo contra criadores de gado ilegais. Mas eles contam que as invasões de terra e o desmatamento continuaram. Tamakware, um indígena mais velho com pinturas pretas no corpo, segurou uma flecha e fez um apelo veemente aos visitantes de fora para dizer ao presidente Lula que retire os agricultores. "O Estado é ausente aqui", disse Francisco Pinto, ele próprio um funcionário público da Funai que vive com a tribo.

Culpados por toda a parte
Um dia após o vôo, o administrador de fazenda Elcimar Alves de Oliveira mostrou um mapa com trechos de mata na terra onde ele e seu grupo de 12 vaqueiros cuidam de aproximadamente 17 mil cabeças de gado. Análises feitas pelo Greenpeace sobre o desmatamento recente indicaram que 1.500 hectares foram derrubados em 2008, deixando cerca de 30 por cento da área da fazenda como floresta intacta. "Não tiramos nenhuma madeira daqui, nem mesmo para cerca", disse Oliveira.

Pela lei, os produtores são obrigados a manter 80 por cento das fazendas como reserva florestal, mas mesmo eles admitem que isso raramente é acatado. Enquanto ambientalistas dizem que os fazendeiros e os grandes frigoríficos que compram gado são os principais motores do desmatamento, fazendeiros com frequência culpam os sem-terra que aceitam a terra do governo e a vendem de forma ilegal.

"O governo está levando as favelas da cidade para o interior", disse James de Senna Simpson, diretor financeiro do sindicato de produtores rurais de Marabá. Ele também questionou, no entanto, qual o direito de estrangeiros e grupos ambientais chamados por ele de "ecomalucos" de dizer aos fazendeiros brasileiros para pararem de derrubar as árvores. "Será que o mundo vai nos pagar para parar de derrubar as árvores? Eles terão de pagar", disse Simpson, descendente de um imigrante escocês.

(Por Stuart Grudgings, O Estado de S. Paulo / IHUnisinos, 01/06/2009)

 


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