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2009-06-02

O surpreendente desabafo do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, contra colegas de governo deixou irritado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao reafirmar a impressão de que o auxiliar prefere "jogar para a plateia" em questões internas da gestão federal. Mas Lula não pensa em demitir o ministro nem espera um pedido de demissão de Minc, segundo relato de interlocutores do presidente ao Valor. Na semana passada, Minc provocou surpresa ao revelar detalhes da conversa privada com Lula. Colegas viram no episódio uma tentativa de desembarcar do governo no papel de vítima. "O Minc é um sujeito leal, responsável, e não seria leviano de construir uma saída do governo para alavancar uma candidatura", avalia um ministro. Por meio de sua assessoria, Minc voltou a negar, nesta segunda (01/06), a intenção de deixar o governo. "Não existe nada neste sentido", informou.

Mesmo contrariado com discussões "pela imprensa", o presidente entende que Minc "não foi derrotado" nas disputas internas, tem "saldo geral positivo" e até nutre simpatia pela "tensão" gerada no embate entre as áreas ambiental e de infra-estrutura do governo. "Desde que isso produza resultados, é claro", informa um auxiliar direto de Lula. Mas a avaliação interna do governo é de que Minc "está errado" em sua oposição ao asfaltamento de 405 quilômetros da rodovia BR-319 (Manaus-Porto Velho). "Já existe", diz o auxiliar. Mas Minc estaria correto ao exigir condições para conceder a licença da obra incluída no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Outro colega de Esplanada dos Ministérios avalia que Carlos Minc, considerado internamente por seus simpatizantes como "voluntarioso" e "instintivo", ainda está "aprendendo a ser governo" e a "combinar o jogo" nos bastidores do governo antes de manifestações públicas. A reação intempestiva de Minc teria, nesta versão, como alvos "ganhar terreno" nos bastidores do governo e "acalmar" sua base política e social: os ambientalistas. Deputado estadual licenciado no Rio, Minc tem acumulado desgastes com sua base, colecionados sobretudo em embates perdidos para o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, como um acordo para recomposição da floresta amazônica com espécies exóticas, o zoneamento da cana-de-açúcar e a reforma do Código Florestal Brasileiro.

Em relato na véspera da reunião com Lula, Minc reuniu-se com outros três colegas no Centro Cultural Banco do Brasil, sede provisória da Presidência. Na ocasião, disse sentir-se "isolado e muito cobrado" dentro do próprio ministério. Afirmou que estaria pagando um "preço político" muito alto sem o respaldo público de Lula. E avisou aos colegas que deixaria claro o desconforto e que pediria "um mínimo de proteção" ao presidente. Na descontraída e reservada reunião, Minc referiu-se a seus esforços em destravar licenças para obras do PAC. "Ele queria um 'obrigado' público", comentou um ministro.

Na versão de bastidores do governo, o ministro Carlos Minc teria uma vantagem sobre sua antecessora, a senadora Marina Silva (PT-AC), que, segundo seus críticos, não buscava a mediação dos conflitos com outras áreas e ameaçava deixar o cargo para constranger o governo. "O Minc estica a corda para conseguir algo e a Marina ia para casa", relata um ministro. No Congresso, Carlos Minc tem sofrido uma forte oposição da bancada ruralista e não tem conseguido articular a resistência com a bancada ambientalista. A disputa envolve propostas legislativas como a reforma do Código Florestal, a imposição de travas ambientais ao processo de regularização fundiária na Amazônia e o licenciamento automático para asfaltamento e duplicação em rodovias federais já abertas.

Em busca de reforço político, Minc fez um acordo com seu colega Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário) para atrair produtores familiares e assentados da reforma agrária. Ao acenar com licenças ambientais menos exigentes a esse público, Minc quer neutralizar os ruralistas e ganhar terreno dentro de uma das principais bases sociais do presidente Lula. Ao lado da pressão exercida por militantes da Contag e do MST, por exemplo, seriam encurtados os caminhos até os ouvidos do presidente. Mesmo que a avaliação na Esplanada seja de que Lula não gosta de arbitrar disputas internas de seus ministros e prefere deixar que cada assunto encontre uma "solução natural".

Em seu programa semanal de rádio, o presidente Lula defendeu ontem a gestão ambiental do governo. Enumerou os feitos federais, como a criação de 25 milhões de hectares de áreas de conservação na Amazônia e a fixação de metas para a redução das emissões de gases causadores do "efeito estufa", na área ambiental. "Tudo isso mostra que nós estamos agindo no caminho correto. Os números mostram que estamos no caminho certo", decretou o presidente. Mesmo sem citar Carlos Minc, o presidente gabou-se do "aperfeiçoamento" do sistema de monitoramento da Amazônia que provocou queda na taxa anual de desmatamento.

"Saiu de 21.050 quilômetros quadrados em 1998 para 11.968 quilômetros quadrados em 2008", afirmou. Lula afirmou, no programa oficial, ter reduzido "em mais de 45%" a devastação da floresta amazônica, " coibindo a impunidade ambiental e tirando o crédito dos desmatadores", justamente duas das ações mais criticadas pelos ruralistas. "Também criamos o Fundo Amazônia, que vai fomentar diversos projetos de combate ao desmatamento, recuperação de áreas degradadas e dos recursos hídricos", disse Lula, em referência ao fundo criado por Minc.

(Por Mauro Zanatta, Valor Econômico, 02/06/2009)


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