Países ricos e pobres criticaram o primeiro rascunho do novo tratado climático da ONU na segunda-feira (01/06), mas aceitaram como um ponto inicial para seis meses de árduas negociações. “Nós ... estamos consternados com a maneira como foi estruturado”, disse o chefe da delegação norte-americana Jonathan Pershing, durante o encontro que começa hoje e vai até 12 de junho entre 180 nações em Bonn (Alemanha), sobre o rascunho que delineia as idéias de todos os países. “Este texto deveria ser mais equilibrado”, disse Ibrahim Mirghani Ibrahim do Sudão, falando em nome dos países em desenvolvimento, incluindo China e Índia.
Ainda, ele comentou que “esta seção marca um ponto de mudança”, pois os textos de negociação formais estão na mesa pela primeira vez, delineando todas as idéias para a inclusão em um novo tratado climático que deve ser acordado em Copenhague, em dezembro. Elas incluem indicações que os países ricos podem reservar 2% do PIB para ajudar os pobres a lidar com o aquecimento global, e sugestões sobre como estes últimos podem reduzir as crescentes taxas de emissão de gases do efeito estufa.
Os delegados da União Européia (UE) disseram que o texto foi aceito como base para as negociações nos próximos meses. “O fato de ter sido criticado de todos os lados provavelmente significa que no geral há equilíbrio”, disse um delegado. Por exemplo, os Estados Unidos disseram que o texto está voltado para os interesses dos países em desenvolvimento e que falta um preâmbulo dizendo que todos os países terão que tomar ações contra o aquecimento global. Os países em desenvolvimento reclamam que o texto gasta mais páginas nas suas possíveis ações do que em cortes de emissões por parte dos ricos.
O presidente das negociações disse que o encontro marca uma nova fase nas discussões, lançadas em Bali em dezembro de 2007. “Precisamos entrar em um modo de negociação integral”, disse o presidente do Grupo de Trabalho sobre a Ação Cooperativa de Longo Prazo, que funciona sob a Convenção da ONU sobre Mudança Climática, Michael Zammit Cutajar, durante a seção. “Vocês, as partes, precisam começar a entender as especificidades”. Os textos estão cheios de buracos a serem preenchidos sobre os compromissos de todos os lados.
O chefe da delegação da Comissão Européia Artur Runge-Metzger disse que o texto não fala o suficiente sobre o desenvolvimento com baixas emissões de carbono para os países pobres. “Não vimos isto refletido apropriadamente no texto”, comentou. Do lado de fora do encontro, protestantes do grupo ambientalista Greenpeace, vestidos de homem das neves, árvores, ursos polar e camelos, alertavam os participantes dos riscos das mudanças climáticas. “Me dê água!” dizia um cartaz sobre um cacto gigante. Dentro do hall, os ativistas penduraram um banner dizendo: “A sobrevivência não é negociável”.
Os países em desenvolvimento argumentam que a desertificação, enchentes, aumento do nível do mar e ondas de calor prejudicarão os pobres muito mais, e querem que os ricos cortem as emissões de gases do efeito estufa em pelo menos 40% abaixo dos níveis de 1990 até 2020. Este número é muito mais severo do que os limites sob discussão nos países ricos.
Na semana retrasada um dos principais comitês do Congresso norte-americano aprovou um plano para cortar as emissões do país em 17% abaixo dos níveis de 2005 até 2020 (o equivalente a 4% abaixo dos níveis de 1990) e 83% até 2050. A UE se comprometeu unilateralmente a cortar as emissões 20% em relação aos níveis de 1990 até 2020, aumentando para 30% se outros países também o fizerem. Runge-Metzger ressaltou que as emissões européias caíram pelo terceiro ano consecutivo desde 2007, demonstrando que os cortes são possíveis.
(Por Alister Doyle, Reuters / CarbonoBrasil, 01/06/2009)
Traduzido por Fernanda B Müller, CarbonoBrasil