Um instrumento tão importante como uma auditoria ambiental vem sendo usado no Espírito Santo para encobrir impactos ambientais e irresponsabilidades. É o que revela o teor da auditoria ambiental realizada na ArcelorMittal Tubarão (ex-CST), feita por nada menos do que a velha e conhecida Cepemar, dona de todos os projetos impactantes do Estado, com pronta e rápida aprovação no governo estadual. No documento, apenas informações técnicas e nenhuma questão de fato relevante para os capixabas. Sem nexo.
Assim como todos os Estudos de Impacto Ambiental (EIAs) e Relatórios de Impacto Ambiental (Rimas) realizados pela empresa de consultoria preferida do governador Paulo Hartung (PMDB), que, independentemente do débito ambiental e social, são classificados sempre como responsáveis ambientalmente, o conteúdo da auditoria segue na mesma linha. Não apresenta números sobre os índices de poluição do ar, um dos principais problemas ambientais do Espírito Santo, e aborda os resíduos sólidos, somente discretamente.
Ao ler o documento, com apenas nove irregularidades - nada representativas - e uma sucessão de elogios à gestão ambiental da empresa, qualquer um faria pelo menos um questionamento, tamanha é a falta de contextualização com a realidade vivenciada pelos capixabas diariamente, o que inclui inúmeras doenças – até mesmo câncer - e a intensa sujeira causada pelo incômodo pó preto. Mesmo sendo a segunda em volume de poluentes lançados no ar na Grande Vitória, sem ao menos tratar os gases de enxofre que emite, a auditoria também trata a poluição do ar de maneira superficial. Apenas relata quais os pontos monitorados e os tipos de gases emitidos. Mas nada de índices nem de enumerar as ações necessárias para minimizar tais emissões.
Outro assunto de suma importância, a instalação de unidades de dessulfuração para tratar os poluentes lançados pela Arcelor, sequer é citado na auditoria. Tais equipamentos são resultado de exigências conquistadas por mobilização da sociedade civil e entidades ambientais, e que deveriam ser instalados nas usinas I e II. Porém, são ignorados no documento. Isso porque tais unidades eram condicionantes impostas à empresa durante sua instalação, e que, apesar de nunca terem sido cumpridas, o governo do Estado continua licenciando a empresa em novos projetos, inclusive sua expansão, que vai agravar ainda mais a poluição do ar na Grande Vitória. Como se não bastasse toda a ausência de dados relevantes, também não é fácil consultar o documento na biblioteca do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), como manda a lei.
Sem avaliação dos reais impactos e do compromisso que a empresa deve assumir para melhorar a qualidade de vida da população, não dá para encontrar outro sentido nessa auditoria, a não ser o de sempre: um show de elogios e emaranhado de dados que não são úteis em nada. Só servem para vender uma falsa idéia de empresa responsável e maquiar os impactos ambientais, que não são poucos. De fato, esta é a única maneira de a Arcelor sair da condição de segunda empresa em emissões de poluentes no Espírito Santo, atrás apenas da Vale, para o título de empresa com “excelente gestão ambiental”.
Parece piada. E é.
(Por Manaira Medeiros*, Século Diário, 28/05/2009)
* Jornalista e especialista em Educação e Gestão Ambiental