Rompimento da barragem teria ocorrido de qualquer forma, em razão da grande quantidade de água, diz presidente de estatal do Estado. Lucile Moura afirma que índice de chuvas na região foi "extraordinário, uma sobrecarga nunca vista'; sete pessoas morreram
A presidente da Emgerpi, Empresa de Gestão de Recursos do Piauí, Lucile Moura, disse neste domingo (31/05) em em Cocal (282 km de Teresina), no centro de operações de resgate e salvamento dos flagelados da explosão da barragem de Algodões 1, que a responsabilidade pela tragédia que até ontem já tinha confirmadas sete mortos é de "todos os seres humanos, de toda a população, de todo mundo que viveu na Terra até agora, e que tratou a natureza de maneira tão desrespeitosa".
A presidente da estatal piauiense, cargo de confiança do governador Wellington Dias, do PT, afirmou estar segura de que os vários laudos técnicos que serão elaborados para apurar responsabilidades dirão que "mesmo na hipótese de a barragem não ter problema nenhum, ela teria explodido de qualquer forma, porque não suportaria aquela quantidade de água". O rompimento de Algodões 1 aconteceu na última quarta-feira.
Segundo Moura, o índice pluviométrico observado na região foi "completamente extraordinário". "Registraram-se 148 mm de precipitação no Ceará, quando a maior chuva até então foi de 118 mm, em 1998. Uma sobrecarga nunca vista, e que levou à quebra de dez açudes, cuja água toda caiu no rio Pirangi, que por sua vez caiu na barragem de Algodões." A argumentação da executiva é uma tentativa de defesa face às acusações de incúria feitas por moradores de Cocal, que foram autorizados a retornar a suas casas às margens do rio Pirangi menos de uma semana antes do colapso da barragem.
No dia 21 de maio, o engenheiro Luiz Hernani de Carvalho, autor do projeto de sangradouro da barragem, garantiu em reunião na cidade de Cocal, presentes autoridades municipais e estaduais, que a barragem não cederia "em nenhuma hipótese". A afirmação peremptória do engenheiro foi que serviu de base para que famílias que anteriormente haviam sido removidas de suas casas voltassem a elas. No sábado, o engenheiro divulgou nota de esclarecimento em que menciona advertência que fez nessa reunião. Segundo a nota, ele teria avisado que famílias das "margens do rio (zona de maior risco) ainda ficavam impedidas de voltar."
A presidente da Emgerpi diz que várias famílias, ""as mais expostas", deveriam mesmo ter ficado nos abrigos que estavam montados desde que começou a temporada das chuvas fortes. ""Só que muitas dessas pessoas quiseram retornar. Não se conseguiu impedi-las de voltar." Ontem pela manhã, o governador Wellington Dias foi a Cocal, acompanhar os trabalhos de salvamento. Ele já se comprometeu a restituir casas e até móveis e geladeiras às famílias que perderam tudo.
Pouco antes, uma equipe de agentes da Polícia Federal chegou à cidade para auxiliar o Ministério Público Federal a apontar responsabilidades pelo ocorrido. Já se sabe que Algodões tinha fissuras que, inclusive, motivaram a contratação de uma empresa, em agosto do ano passado, para elaborar projeto de recuperação. A empresa entregou um pré-projeto no início do mês de março. Segundo Lucile Moura, "o projeto final estava em fase de elaboração quando chegaram as chuvas".
(Por Laura Capriglione, Folha de S. Paulo, 01/06/2009)