A esperança: energia ilimitada, sem gases do efeito estufa
O que poderá ser o projeto mais caro de energia limpa do mundo está em andamento em um local tranquilo no sul da França. China, EUA, Japão e União Europeia investiram bilhões de dólares para construir o Reator Experimental Termonuclear Internacional, ou ITER na sigla em inglês, em uma região de florestas na Provença chamada Cadarache, que é um centro de pesquisa atômica. O objetivo é provar que se pode gerar energia por meio da fusão nuclear -um processo semelhante ao da produção de luz e calor pelo sol. A promessa é uma quantidade virtualmente ilimitada de energia a partir de fontes abundantemente disponíveis.
A fusão não cria gases-estufa e produz muito menos dejetos nocivos do que a fissão, o atual processo nuclear, embora os reatores a fusão se tornem radioativos e os dejetos ainda exijam um descarte especial. Se der certo, o conceito só deverá ser comercialmente viável em meados do século. Mas os custos crescentes do equipamento poderão complicar ainda mais as relações entre os participantes, que incluem Coreia do Sul, Índia e Rússia. Já houve um atraso de dois anos devido a dificuldades para criar uma organização para o projeto. "Nenhum país pode desenvolver a fusão sozinho", disse Pascal Garin, líder do projeto na Instalação Internacional de Irradiação de Material de Fusão, no Japão, que está ajudando a desenvolver materiais para o reator. "Os desafios técnicos e econômicos são enormes se comparados com outras tecnologias de baixa emissão, como a energia solar ou a energia nuclear convencional."
O orçamento original, feito em 2001, era de cerca de US$ 10 bilhões por 30 anos. Esse orçamento está sendo revisado porque os preços de matérias-primas vitais como o aço aumentaram muito e porque estão sendo acrescentadas características ao projeto original, para garantir que o experimento funcione. Os sete parceiros deverão decidir sobre o novo valor e em como dividir seu pagamento em reuniões neste mês e em novembro, disse Neil Calder, porta-voz da organização ITER.
Até agora, reatores experimentais a fusão precisaram de mais energia para funcionar do que produziram. As atuais usinas nucleares geram energia através da fissão, dividindo átomos de urânio pesado. A fusão significa aquecer átomos de hidrogênio muito leves a cerca de 100 milhões de graus centígrados -ou cerca de dez vezes a temperatura do sol. Esse processo cria um chamado gás plasma, no qual partículas que normalmente se repeliriam agora se combinam e produzem vastas quantidades de energia. Ao confinar o plasma quente com o uso de ímãs poderosos, os cientistas pretendem manter o processo em andamento mais ou menos como o sol, confinado pela gravidade, continua queimando.
Os cientistas já sabem fazer um reator como o ITER funcionar, mas dizem que precisam realizar cerca de 15 anos de experimentos depois que a máquina for construída, provavelmente até 2018.
Os críticos dizem que se o objetivo básico do empreendimento for criar grandes quantidades de eletricidade livre de emissões, para atenuar a mudança climática, seria melhor investir o dinheiro em tecnologias existentes, como as de energia eólica e solar. Mas os defensores do projeto dizem que o total que será gasto no ITER e em projetos associados é pequeno, se comparado ao que algumas empresas gastariam em pesquisa e desenvolvimento de bens de consumo, como novos modelos de carros, no mesmo período de tempo.
Autoridades europeias disseram que o trabalho do reator poderá levar a uma série de avanços, incluindo o desenvolvimento de novos revestimentos que suportam temperaturas muito altas, assim como novos projetos de microchips.
(Por Jams Kanter, New York Times / Folha de S. Paulo, 01/06/2009)