Depois de limitar as emissões de dióxido de carbono (CO2) das usinas de energia e indústrias, a União Européia busca a eficiência nos meios de transportes como forma de combater o aquecimento global
O transporte na Europa registrou um enorme crescimento nas últimas duas décadas devido à abertura das fronteiras e ao incremento do comércio, o que fez as emissões de CO2 do setor subir cerca de 35% desde 1990. Os europeus esperam que as emissões da navegação e aviação sejam debatidas na Conferência Climática de Copenhague, em dezembro, mas desejam cuidar regionalmente e o mais breve possível dos transportes terrestres e de sua contribuição para o aquecimento global. “Nós temos sido bem sucedidos em reduzir as emissões do setor de energia e das indústrias em até 20% desde 1990, mas o impacto disso não foi tão grande devido ao crescimento das emissões dos transportes”, afirmou Jos Delbeke, do Departamento de Meio Ambiente da Comissão Européia.
Muitos ambientalistas criticam a União Européia por ser muito branda com o poderoso setor automotivo, tendo determinado no final do ano passado apenas um corte progressivo de 23% das emissões dos carros nos próximos seis anos. Porém, Delbeke lembra que toda a legislação aprovada recentemente coincidiu com a crise econômica mundial, em particular com a crise das montadoras, e que é preciso ter paciência. “Mas de certa forma a recessão nos ajudou, porque fez as empresas olharem o problema das emissões como uma provável saída para a queda das vendas. Todos estão investindo como nunca em eficiência de combustível, carros elétricos e híbridos”.
Apesar das metas a curto e médio prazo para o transporte terem sido criticadas, o limite de 95 gramas de CO2 emitidos por quilometro em 2020 foi recebida como uma boa notícia por diversas entidades ambientais. A preocupação agora é com uma possível alteração desse objetivo nos próximos anos. “Quando lançamos a meta de 120g por quilometro não havia praticamente nenhum carro no mercado que a atingisse. Hoje temos vários modelos, e as empresas até utilizam esse dado de baixas emissões em sua publicidade. Não temos porque acreditar que a meta de 95g em 2020 não se mantenha”, esclareceu Delbeke.
Planejamento conjunto
Nesta semana, um novo relatório renovou esse ponto de vista da importância de se criar metas para os transportes como forma de se evitar as piores conseqüências das mudanças climáticas. Com o título de ‘Low Carbon Vehicles: Driving the UK’s transport revolution’, o relatório, publicado na Inglaterra pelo renomado Instituto de Engenheiros Mecânicos (IMechE), recomenda que além deste objetivo de 95 gramas em 2020, seja, desde já, estabelecido um limite de 30 gramas por quilometro em 2050.
O documento faz ainda uma série de sugestões para o governo britânico e europeu sobre de que forma conduzir a ‘revolução verde’ dos transportes. Destaca, por exemplo, que o setor público deve assumir a responsabilidade de servir de modelo para os consumidores e passar a comprar apenas veículos híbridos ou de baixas emissões para suas frotas, o que também daria um empurrão para a indústria estabelecer preços e serviços mais acessíveis para esses carros.
Mas o estudo relembra que de nada adianta todos possuírem carros elétricos, se essa energia continuar vindo de fontes sujas. “Todas as ações de limitar as emissões devem ser pensadas conjuntamente, de uma maneira global”, afirma o relatório. “Nós precisamos ser mais ambiciosos com os meios de transporte. Precisamos de um pacote de medidas para lidar com essa questão, algo que junte os problemas das mudanças climáticas, poluição e transporte e nos faça evoluir nos três aspectos”, reforçou Delbeke.
O grande dilema que as autoridades européias enfrentam agora é como diminuir as emissões sem prejudicar o comércio, que será fundamental para tirar o mundo da crise. “Temos que administrar esse problema de forma que permita o crescimento do transporte sem que isso signifique aumento de emissões. Nessa fase de transição entre combustíveis sujos para os renováveis, podemos, por exemplo, estabelecer pedágios nas estradas que seriam mais caros para os veículos mais poluentes”, conclui Delbeke.
(Fabiano Ávila, CarbonoBrasil, 29/05/2009)