Se no Brasil a floresta tropical é ameaçada pela exploração madeireira, expansão da agropecuária e garimpos irregulares, na Colômbia o plantio de coca é um complicador a mais para a conservação de sua porção amazônica, que corresponde a 42% do território do país. A coca, que há séculos faz parte da cultura dos povos indígenas na região, passou a ser produzida ali com fins “comerciais”, ou seja, para virar matéria-prima para cocaína, principalmente a partir dos anos 90, segundo explica o pesquisador Carlos Ariel Salazar, do Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas (Sinchi, sigla em espanhol). Antes, os grandes cartéis, como o de Pablo Escobar, usavam a região apenas para manter laboratórios de refino escondidos no meio da selva, enquanto áreas não amazônicas concentravam as plantações (ainda hoje elas têm a maior parte delas).
Na década passada, explica o especialista, ao lado das criações de gado, começaram a proliferar as plantações de coca na Amazônia. No entanto, desde então, o combate sistemático por parte do governo diminuiu sua presença. “Em meados dos anos 90 tínhamos cerca de 1600 quilômetros quadrados de plantações de coca na Amazônia”, conta. Desde então, a área total foi reduzida em cerca de 75%.
O governo colombiano, em parceria com as Nações Unidas, criou um programa para divulgar mundialmente os danos ambientais causados pelo uso de drogas. Segundo este programa, o uso de 2 gramas de cocaína equivale à destruição de 8 metros quadrados de floresta tropical. Para Salazar, não é possível associar o plantio de coca ao desmatamento de uma forma tão direta, já que muitas vezes se aproveitam áreas que não foram desmatadas com o propósito de se produzir a coca, assim como ocorre no Brasil, onde terras devastadas para a produção de carvão vegetal, por exemplo, acabam virando pastos. Ainda assim, trata-se de um fator de pressão sobre a floresta.
Outro problema apontado pelo governo colombiano é que, para adubar o solo pobre das regiões de selva, os plantadores de coca usam até dez vezes mais agrotóxicos que os produtores de plantas legais.
Desfolhantes
Também o combate ao cultivo de coca pode ser prejudicial à floresta, já que uma das técnicas para destruir as plantações é lançar desfolhantes sobre elas com aviões. “Na Amazônia há duas bases de onde saem aviões com desfolhantes”, aponta Salazar. O uso desse tipo de produto químico é mais necessário na região de selva do que nas áreas montanhosas da Colômbia, pois em muitos casos as plantações são protegidas por guerrilheiros como os das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
O pesquisador do Sinchi afirma que o efeito prejudicial dos desfolhantes sobre a floresta ainda está sendo estudado por instituições governamentais e não-governamentais. “Não há resultados conclusivos sobre os danos. É uma discussão mais ideológica do que técnica ou científica”, diz Salazar. De uma forma ou de outra, explica o pesquisador, nas áreas de reserva a erradicação da coca é feita manualmente, já que a fumigação ali é proibida por lei.
A poluição dos rios e da terra é outro efeito negativo da produção de cocaína. Segundo o governo colombiano, cada hectare (10 mil metros quadrados) de plantação resulta em aproximadamente 7,4 quilos da droga para ser vendida no varejo. Para refiná-la são necessários 647 quilos de cimento, 912 litros de gasolina, 8 litros de ácido sulfúrico, 11 litros de amoníaco, além de outros produtos químicos que acabam sendo despejados nos rios ou no solo.
(Dennis Barbosa, Globo Amazônia / AmbienteBrasil, 01/06/2009)