Os países ricos como um todo dificilmente cumprirão até 2020 os cortes profundos nas suas emissões de gases do efeito estufa reivindicados pelas nações em desenvolvimento, disse uma autoridade norte-americana na sexta-feira. China, Índia e outros países em desenvolvimento dizem que os países ricos precisam assumir a maior parte da luta contra o aquecimento global, de modo a estimular os países emergentes a também adotarem medidas mais incisivas, como parte de um novo tratado climático da ONU a ser concluído em dezembro em Copenhague.
"Temos estado engajados em conversas com nossos amigos europeus a respeito de como expressar um tipo agregado de meta", disse por telefone a jornalistas o enviado especial dos EUA para a mudança climática, Todd Stern, antes de uma nova rodada de discussões em Bonn, entre os dias 1o e 12 de junho. "Não acho que você verá um número agregado de 25 a 40 por cento (de redução em relação às emissões de 1990)", disse ele. "É possível quando se soma tudo que não se esteja tão longe disso", ressalvou. Em 2007, o Painel Climático da ONU recomendou o corte de 25 a 40 por cento para os países ricos até 2020, como forma de evitar os piores efeitos do aquecimento global.
A França sugeriu nesta semana que os países desenvolvidos como um todo resolvam uma maneira de reduzir suas emissões em 25 a 40 por cento. Washington diz que não tem como seguir esse número. Mas China, Índia e outros argumentam que os países ricos se beneficiaram do uso de combustíveis fósseis desde a revolução industrial, e por isso seria justo que em 2020 emitissem 40 por cento menos do que em 1990. Já os países pobres, alegam eles, precisam continuar ampliando seu uso energético para combater a pobreza.
Na semana passada, uma comissão parlamentar dos EUA aprovou um plano para reduzir as emissões norte-americanas até 2020 para 17 por cento abaixo dos níveis de 2005, e para 83 por cento abaixo até 2050. As emissões norte-americanas subiram fortemente nos últimos anos, de modo que essa meta para 2020 representa uma redução de apenas 4 por cento em relação a 1990. Nesta semana, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, cobrou mais empenho dos EUA.
A União Europeia promete que até 2020 reduzirá suas emissões para 20 por cento abaixo do nível de 1990, podendo chegar a 30 por cento se outros países ricos seguirem seu exemplo. As emissões na UE caíram desde 1990, de modo que, em relação a 2005, as metas europeias variam de 14 a 24 por cento. Stern disse que isso torna os planos da UE comparáveis aos dos EUA. Ele afirmou ainda que a China, que superou os EUA como maior emissor de carbono nos últimos anos, e outros países em desenvolvimento precisam ampliar suas ações. "Eles vão precisar fazer mais."
(O Estado de São Paulo, 31/05/2009)