Uma das maiores emissoras de CO2 do país, a Petrobras anuncia que planeja deixar de lançar na atmosfera milhões de toneladas de carbono presentes nos reservatórios de petróleo e gás da camada pré-sal. As concentrações de carbono no local são muito maiores do que em outros campos petrolíferos. Estimativas apontam que somente nas duas áreas com reservas delimitadas -os campos de Tupi e Iara, onde há um acúmulo de até 12 bilhões de barris de óleo e gás- existam 3,1 bilhões de toneladas de CO2, um dos gases que contribuem para o aquecimento do planeta.
Para evitar que todo o gás pare na atmosfera, a solução é investir em tecnologia. A companhia quer reinjetar o CO2 extraído do pré-sal nos próprios reservatórios. Segundo José Formigli, gerente da Petrobras para exploração e produção do pré-sal, o acúmulo de CO2 nas reservas da bacia de Santos é gigante e seriam liberadas "milhões e milhões de toneladas". Como o gás carbônico é um contaminante para o gás natural e não tem valor comercial, normalmente ele é lançado na atmosfera, afirma o gerente.
Desde o início deste mês, a Petrobras realiza o teste de longa duração de Tupi, uma produção piloto para avaliar as condições do reservatório que já dispõe da nova tecnologia de reinjetar no poço o CO2 extraído do fundo do mar. Para atender uma exigência ambiental da ANP (Agência Nacional de Petróleo), a produção de petróleo na área está limitada. O teto é de 500 mil metros cúbicos, o que permite retirar 15 mil barris/dia do campo, metade da capacidade.
Formigli diz que a reinjeção é viável e seu emprego se justifica pelo grande passivo ambiental que seria gerado caso o CO2 fosse liberado. "Dentro de alguns anos, será socialmente inaceitável lançar tamanha quantidade de carbono". Isso porque a produção será muito grande -somente numa fase inicial do desenvolvimento do pré-sal, a Petrobras estima instalar 10 plataformas com capacidade de produção de 150 mil barris/dia.
Para a Petrobras, não é possível estimar as emissões de carbono do pré-sal, pois não se sabe a produtividade dos campos. Alexandre Szklo, professor de planejamento energético da Coppe, calcula que as emissões vão superar os 3 bilhões de toneladas somente com o carbono contido nos reservatórios. A conta considera o percentual de 10% a 15% de CO2 nos campos do pré-sal, concentração bem maior do que os 5% das demais reservas do país.
Nessa estimativa, não está embutido o CO2 que só será liberado com a queima dos combustíveis em veículos, caldeiras, entre outros usos. De acordo com Szklo, a técnica de reinjetar o CO2 em poços de petróleo é conhecida, mas não é utilizada em escala comercial. Esse, diz, é o maior desafio da Petrobras. Ao mesmo tempo, diz ele, a empresa precisa encontrar alternativas para o CO2, pois, caso contrário, será uma das companhias de petróleo que mais emitem na Terra. E levará ainda o Brasil ser obrigado a cumprir metas de emissão como países de matriz energética "suja", casos de China e EUA.
O país tem um problema grave com as emissões geradas pelas queimadas, mas não pelo uso de energia, como ocorre na maior parte dos países. "Para o Brasil, as emissões do pré-sal podem ser ruins, embora o óleo do pré-sal venha a substituir o petróleo pesado da bacia de Campos, cujo potencial de CO2 na queima dos derivados é maior. Para a Petrobras, certamente as emissões vão crescer na área de produção de petróleo", diz. Mas para o mundo, isso não deve ocorrer. "O petróleo do pré-sal vai deslocar o consumo de óleos mais pesados, mais poluentes, como as areias betuminosas do Canadá e o petróleo ultrapesado da Venezuela".
(Por Pedro Soares, Folha Online, 31/05/2009)