"Há limite para nossa paciência", reage Pyongyang, à perspectiva de mais sanções da ONU. Satélite americano detecta preparação de novo disparo, de longo alcance; Conselho de Segurança deve agravar punição na próxima semana
A Coreia do Norte voltou a desafiar ontem a comunidade internacional ao ameaçar com a adoção de "medidas de autodefesa" no caso da aprovação de novas sanções pelo CS (Conselho de Segurança) da ONU e disparar mais um míssil de curto alcance no mar do Japão. "Há um limite para a nossa paciência", disse, segundo a agência oficial de notícias, a Chancelaria do país, que acusou o conselho de hipocrisia.
"O teste nuclear conduzido por nossa nação é o de número 2.054 do mundo. Os membros permanentes do CS da ONU conduziram 99,99% deles." EUA, China, Rússia, Reino Unido e França, que têm poder de veto no CS, além de Coreia do Sul e Japão, discutem desde o início da semana a adoção de nova resolução contra o país.
Um novo texto deverá exortar os países a "reforçar" as duas resoluções já em vigor -em grande parte não implementadas-, mas só será apresentado no início da próxima semana, segundo diplomatas. No último domingo, a Coreia do Norte realizou o segundo teste nuclear de sua história, violando resolução do CS adotada após a detonação do primeiro artefato, em 2006. O teste gerou reprovação internacional unânime, inclusive de aliados como China e Rússia.
Alegando agir em "defesa" ante ao que considerou a adoção de uma posição de confronto dos EUA e aliados regionais, Pyongyang disparou entre segunda e terça-feira uma série de mísseis de curto alcance. Ontem, o regime do ditador Kim Jong-il fez lançamento de novo projétil a partir da costa leste. Paralelamente, funcionários americanos ouvidos por agências internacionais disseram haver indícios de que o país prepara o lançamento de um míssil de longo alcance.
O disparo seria efetuado na mesma base de lançamento de onde foi lançado, em abril, o foguete que motivou repreensão do CS à Coreia do Norte. Em retaliação, o país anunciou então a retomada do seu programa nuclear, congelado desde 2007, depois de acordo com os EUA. Pyongyang também reiterou ontem que considerará inválido o armistício que pôs fim, na prática, à guerra com a vizinha do Sul, em 1953, no caso de sanções. A medida já fora anunciada, porém, na quarta, após Seul aderir a iniciativa americana de controle marítimo regional.
"Eixo do mal"
Além de pressionar aliados e, sobretudo, a China pela aprovação de uma resolução dura contra Pyongyang, o Departamento de Estado dos EUA não descartou ontem reintegrar o país à lista dos países patrocinadores do terrorismo. A Coreia do Norte fora retirada no ano passado da lista pelo governo George W. Bush em troca do fechamento da usina nuclear de Yongbyon, entre outras coisas. Nesta semana, a imprensa sul-coreana noticiou indícios da reabertura da usina.
O secretário da Defesa, Robert Gates, a caminho de encontro de segurança em Cingapura, disse que, apesar do aumento da tensão, a situação não configura crise regional e disse não crer na necessidade de reforço militar na Coreia do Sul. Anteontem, os comandos conjuntos dos EUA e da Coreia do Sul elevaram o alerta militar para o maior nível desde 2006. Washington mantém ainda hoje 28,5 mil soldados no país. Para analistas, porém, a motivação do país para a escalada é interna. Acredita-se que Kim, 67, se encontre em frágil estado de saúde e esteja tentando controlar o processo de sucessão.
(Folha de São Paulo, 30/05/2009)