A partir de junho de 2010, quando será fechado o barramento da hidrelétrica Foz do Chapecó, entre Águas de Chapecó e Alpestre (RS), na região Oeste, a paisagem do Rio Uruguai será modificada. Além da formação do lago, que vai atingir 13 municípios gaúchos e catarinenses, haverá uma redução do nível do rio à jusante (abaixo do barramento). Isso vai afetar diretamente pescadores e moradores ribeirinhos dos municípios de Águas de Chapecó e São Carlos, pois a água para a geração de energia será desviada por dois túneis. Aumentando em 12 metros a queda, amplia-se a produção.
Com isso, um trecho de aproximadamente 20 quilômetros do Rio Uruguai ficará com a vazão mínima exigida por lei, que é de 75 metros cúbicos por segundo. Essa vazão vai dobrar a partir da Foz do Rio Chapecó, que fica a sete quilômetros da barragem. Mesmo assim, os moradores da região estimam que o rio ficará com apenas 25% do volume normal, trazendo grandes impactos sociais e ambientais. Para o pescador Derli Mendes, a escassez de peixes já é uma realidade:
– Não pescamos nada. Desde que começou a barragem, se foram os peixes.
Ele espera ser reconhecido como um dos atingido pela obra. De acordo com o presidente da Colônia de Pescadores Z 35, sediada em São Carlos, Paulo Mergen, em alguns pontos, o leito do rio, que tem cerca de um quilômetro de largura, ficará com menos de cem metros:
– Serão poças com água podre.
Pecadores ameaçam parar as obras
Ele afirmou que a situação inviabiliza a atividade econômica de mais de cem famílias de pescadores. A pesca, inclusive, já estaria sendo afetada pela obra, em virtude das detonações. Mergen destacou que a atividade que antes rendia de três a quatro salários por mês para cada família, agora não rende nem um.
Há duas semanas houve uma reunião entre os pescadores, a Foz do Chapecó Energia, Ministério das Minas e Energia, Ibama e representantes da secretaria de Aquicultura e Pesca. Foi acertado que a Foz do Chapecó Energia vai fazer um levantamento dos pescadores da região. Mas não ficou definida como será a compensação para os pescadores.
– Até agora, a gente não sabe se será indenizado – protestou Mergen.
Ele afirmou que a reivindicação da colônia é de carta de crédito, reassentamento ou uma compensação financeira por lucro cessante, já que não haverá mais condições de pescar na área. Os pescadores associados consideram que alternativas como parque aquático, estação de piscicultura ou implantação de tanques não resolvem o problema das famílias.
O prazo dado pelos pescadores é até o final do mês de junho. Caso contrário, eles ameaçam paralisar as obras da hidrelétrica.
(Por Darci Debona, Diário Catarinense, 24/05/2009)