Um estudo publicado na edição de 28 de maio da Nature ajuda a definir a contribuição potencial do derretimento do permafrost para o aumento das concentrações atmosféricas de carbono, que já alcançaram níveis sem precedentes. "Em um trabaho anterior nós estimamos que o derretimento geral do permafrost poderia liberar até entre 0,8 a 1,1 gigatons de carbono por ano", diz Ted Schuur, um ecologista da Universidade da Flórida e autor principal do estudo. "Antes deste estudo, não sabíamos quão rápido o carbono poderia ser liberado do permafrost e como isso realimentaria as mudanças climáticas com o tempo".
Uma grande quantidade de carbono orgânico na tundra fica armazenado no solo e permafrost. Esse depósito de carbono, depositado ao longo de milhares de anos, permanece trancado no chão permanentemente congelado. Nos últimos anos, essa área começou a derreter, permitindo o acesso a plantas e bactérias que podem tirar o carbono da terra e liberá-lo na atmosfera.
É preciso uma melhor compreensão sobre a taxa de liberação de carbono para poder estimar a força da realimentação positiva (positive feedback) para as mudanças climáticas, uma provável consequência do derretimento do permafrost. Os cientistas usam o termo realimentação positiva para descrever o seguinte efeito bola-de-neve: um clima mais quente permite o derretimento do permafrost, liberando mais carbono na atmosfera, o que, por sua vez, vai aumentar mais ainda a temperatura global.
De 2004 a 2006, Schuur e sua equipe usaram datação por radio-carbono, uma técnica tipicamente empregada para determinar a idade de artefatos, para rastreas o movimento de carbono orgânico "antigo", acumulado dentro dos solos e do permafrost em um local do Alaska. A capacidade de distinguir o carbono antigo do novo, permitiu aos pesquisadores rastrear o atual metabolismo de carbono anitgo na área onde o derretimento do permafrost está aumentando.
Surpreendentemente, essa pesquisa revelou que, durante os estágios iniciais do derretimento do permafrost, aumentam o crescimento de plantas e a fotossíntese, o que retira carbono da atmosfera. Esse aumento contrabalança o aumento da emissão de carbono causado pelo derretimento. No entanto, um derretimento continuado eventualmente vai liberar mais carbono do que as plantas podem absorver, suplantando sua capacidade de compensação. Colocando isto em um contexto global, se a tempertatura média global continuar a subir, os cálculos atuais predizem que a realimentação positiva do derretimento do permafrost poderia adicionar anualmente à atmosfera tanto carbono quanto outra fonte significativa, a modificação do uso das terras.
O sitio no Alaska onde Schuur e seus colegas realizaram sua pesquisa, foi monitorado ao longo das duas últimas décadas, sendo que as medições da temperatura do permafrost começaram antes que o permafrost começasse a derreter. Esse registro detalhado, junto com o estudo de Schuur do sistema de troca de carbono do ecossistema e da liberação do carbono antigo, fornecem um quadro abrangentes da dinâmica das trocas de carbono em resposta ao derretimento do permafrost.
Segundo Schuur, "Os registros existentes desse sitio são em uma escala de décadas, o que quer dizer que podemos seguir mais acuradamente o lento ritmo das mudanças no sistema. No geral, esta pesquisa documenta as mudanças de longo prazo nas plantas e no solo que ocorrem com o derretimento do permafrost, o que nos dá uma base para fazer previsões de longo prazo acerca do equilíbrio de carbono do ecossistema com maior confiança".
(Por João Carlos, Chi vó, non pó, 27/05/2009)