Segundo especialista da Federal do PI, governo ignorou alerta da meteorologia. "Essa barragem "avisou" que ia romper", diz professor; empresa responsável por reservatório diz que era impossível prever acidente
O engenheiro civil e chefe do Departamento de Recursos Hídricos da UFPI (Universidade Federal do Piauí), Manoel Coelho Soares Filho, disse nesta quinta (27/05) que o rompimento da barragem Algodões 1 era "previsível", já que institutos de meteorologia apontaram que as chuvas devem continuar atingindo a região até meados de junho. Soares Filho criticou o engenheiro Luiz Hernani, responsável pelo projeto de construção da obra, que afirmou não haver risco de rompimento.
"Essa barragem "avisou" que ia romper. Projetistas estiveram na região, retiraram as famílias ribeirinhas de suas casas e depois disseram que elas podiam voltar. Não sei em que dados eles se basearam para autorizar o retorno. Eu não tomaria essa decisão porque as chuvas só diminuíram, mas ainda chove muito na região", afirmou. Segundo o professor, não havia uma manutenção adequada da barragem. "Começaram a fazer um reparo lá, mas isso não foi suficiente. A manutenção deveria ser feita no período de seca, não agora."
Soares Filho disse ainda que a barragem de Algodões 1 não cumpria as funções previstas em seu projeto inicial: abastecimento e irrigação. A presidente da Emgerpi, empresa responsável pela barragem, Lucile Moura, disse que era impossível prever o rompimento de parte da estrutura. Segundo ela, a barragem era, sim, utilizada para o abastecimento de água do município de Cocal.
Previsão
As chuvas que atingem os Estados do Maranhão, Piauí e Ceará devem continuar até o dia 15 de junho, segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia no Nordeste). A precipitação pode chegar à região atingida pelo vazamento da barragem de Cocal, afirma Ednaldo Araújo, do Inmet.
(Por Afonso Benites, Folha de S. Paulo, 29/05/2009)