Neste mês a Eletrobrás retomou o debate sobre a construção de hidrelétricas na Bacia do Tapajós, no Pará. Em um anúncio no dia 25, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) identificou ser possível aumentar o número de usinas na região, ampliando de cinco para sete. A Eletrobrás, mesmo sem um estudo de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), já divulgou que não haverá impactos ambientais e nem sociais para a região.
Indígenas que vivem nas proximidades discordam das argumentações. Eles temem que suas terras sejam impactadas e aguardam uma explicação da empresa de energia, junto com outros povos da Bacia do Tapajós já se manifestaram contra as obras. "A população indígena é contra, porque vai afetar muito a área, além dos ribeirinhos que moram lá e pode até prejudicar a pesca", explica Jecinaldo Saw, indígena Munduruku que participa da Associação Indígena Pary'ri.
Ele explica que os Povos da Bacia do Tapajós se reuniram no município de Itaituba (PA) para debater o tema, no começo do mês. A Eletrobrás estava entre os convidados, as não apareceu para explicar o projeto. Ao final do evento, indígenas, ribeirinhos, pescadores, agricultores familiares e educadores divulgaram uma Carta Aberta contra o projeto. Jecinaldo explica que até agora não têm muitas informações sobre o projeto, pois aguardam um convite oficial da empresa para conhecer a proposta. Os indígenas Munduruku lutaram por anos pelo reconhecimento de suas terras e hoje temem "que vá tudo pro fundo d'água", nas palavras de Jecinaldo.
A redação do site Amazonia.org.br entrou em contato com a Eletrobrás, e sua assessoria de comunicação informou que os representantes pelo projeto não estão falando sobre o assunto, por enquanto. A falta de diálogo com os indígenas da região não é algo novo. Um projeto de hidrovia para escoar a produção de grãos na região já trouxe grandes debates. Atualmente o projeto da hidrovia Tapajós-Teles encontra-se embargada por uma liminar do Ministério Público Federal, por mobilização de setores da sociedade civil e dos Munduruku.
As "usinas plataformas"
A Eletrobrás está realizando o estudo para a construção de uma série de hidrelétricas na região. Inicialmente o projeto previa a construção de cinco hidrelétricas, utilizando o conceito de plataformas submarinas de petróleo. O projeto inicial previa a capacidade de geração de 11 mil megawatts (MW) de energia e os investimentos alcançam RS 30 bilhões.
A maior usina será a de São Luiz do Tapajós com um reservatório que ocupará uma área de 722,5 km² e potência instalada de 6.133 mw. A expectativa da Eletrobrás é que esta usina esteja pronta para licitação em junho de 2010. Os outros empreendimentos são Jatobá, com um reservatório de 646,30 km² de área e potência de 2.338 MW, Cachoeira do Caí, com reservatório de 420 km² e potência de 802 MW; Jamanxim, com área de reservatório de 74,45 km² e potência de 881 MW; e Cachoeira dos Patos, com 116,5 km² de área de reservatório e 528 MW de potência.
(Por Aldrey Riechel, Amazonia.org.br, 28/05/2009)