Indústria e ambientalistas concordam que nas águas do Oceano Ártico a pesca comercial deve ser proibida
De acordo com a nova proposta, traineiras seriam impedidas de pescar nas águas ao norte do estrito de Bering. As águas americanas ao norte do estreito de Bering deverão ser totalmente fechadas à pesca comercial. Em Seattle, o Conselho de Manejo Pesqueiro no Pacífico Norte – órgão governamental americano encarregado de administrar as águas do Alasca – votou por unanimidade pelo fechamento de 507.600 km² de águas oceânica a qualquer tipo de captura pesqueira. “Isso afastará a pesca comercial do Ártico,” declarou Jim Ayers, vice-presidente para assuntos do Pacífico e Ártico da organização de conservação dos oceanos ─ Oceana ─ localizada em Juneau, Alasca. “Este é o começo de um novo conceito de áreas marinhas protegidas.”
Atualmente, não há pesca nessas áreas – águas territoriais americanas situadas nos mares de Chukchi e de Beaufort −, mas o derretimento de gelo oceânico e a migração para o norte de certas espécies de peixe, como o salmão, facilitarão o aparecimento de atividades pesqueiras em um futuro não muito distante. O resultado dessa votação acaba com essa possibilidade, a não ser que estudos científicos demonstrem que a pesca não afetará os ecossistemas árticos ou o modo de vida tradicional das populações nativas. “O funcionamento dos ecossistemas marinhos no Ártico são pouco conhecidos, e não se sabe como responderão às violentas mudanças que estão ocorrendo, para definir níveis seguros de coleta de recursos marinhos vivos na região,” observam 43 cientistas marinhos em uma carta enviada à presidência do Conselho. “Até que a taxa de redução do gelo oceânico e sua duração sejam bem entendidas, fechar o Ártico para a pesca comercial é uma medida prudente.”
A decisão exige que o Serviço Nacional de Pesca Marinha, órgão ligado à Administração Nacional dos Oceanos e da Atmosfera (NOAA, na sigla em inglês), emita um relatório, e espera-se que o departamento de comércio americano oficialize o acordo no segundo semestre. A Aliança para a Conservação Marinha, grupo ligado à indústria pesqueira, localizado em Juneau, também concorda com o fechamento da área.
Embora seja uma boa notícia para os peixes, não significa que o Ártico esteja livre de ameaças da indústria. O governo anterior arrendou à Shell a exploração de petróleo e gás no Mar de Chukchi, e o aquecimento global dá mostras de destruição pelo derretimento do gelo oceânico, enfraquecimento do permafrost (subsolo permanentemente congelado) e até destruição de vilas e cidades. Isso levou habitantes do Alasca a entrar com ação judicial requerendo a redução de gases estufa para preservar o estilo de vida tradicional. Outros países, como a Noruega, já iniciaram atividades pesqueiras nas águas recém-abertas do Ártico ─ o que significa que a zona protegida americana poderá se tornar um pequeno refúgio, a menos que o governo americano consiga persuadir outras sete nações a seguirem seu exemplo.
Essa é a primeira vez que um viveiro de peixes é protegido antes que corresse risco de desaparecimento. “As leis que regulamentam a pesca nos Estados Unidos baseiam-se no princípio de: primeiro pescar e depois cuidar do colapso, como ocorreu na Nova Inglaterra”, avalia Ayers. “Essa é uma oportunidade para os Estados Unidos e os outros países considerarem o oceano Ártico de forma diferente do Mediterrâneo, Atlântico ou Pacífico, onde primeiro dizimamos as reservas de peixes e depois nos preocupamos em salvá-los.”
(por David Biello, Scientific American Brasil / UOL, 21/05/2009)