Os indígenas da Amazônia querem participar das decisões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e reivindicaram nesta quarta (27/05) um assento no Conselho de Administração do banco, com objetivo de opinar sobre a concessão de crédito para empreendimentos em terras indígenas e medidas de compensação aos impactos das obras. “Queremos evitar danos lá na frente. Não só ao meio ambiente como à própria existência dos índios. Queremos agir antes da concessão do crédito para que as empresas contenham os impactos, se não for possível evitá-los”, afirmou o representante das Organizações Indígenas da Amazônia (Coiab), Cléber Karipuna, um dos organizadores do seminário O BNDES e os Povos Indígenas, que termina nesta quinta (28), na sede do banco.
Durante o evento, o representante do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Julio Macuxi, lembrou que os índios são afetados por obras de infraestrutura, plantações de grãos e instalação de empresas financiadas pelo BNDES, “que acaba por trás da invasão de terras, perda de recursos naturais, disseminação de doenças e da miséria”. Para os índios, é preciso um diálogo sobre os critérios de financiamento e monitoramento dos empreendimentos que têm dinheiro do BNDES, as formas de captação de recursos do Fundo Amazônia que conta com US$ 110 milhões (doados pela Noruega), e as linhas específicas para projetos de desenvolvimento voltado aos índios.
“O ideal é não termos empreendimentos em terras indígenas. Mas se temos um diálogo antes da construção da obra, caso ela tenha mesmo que ser construída, podemos criar critérios de compensação e mitigação dos impactos”, acrescentou Karipuna. “Podemos exigir da empresa, por exemplo, programas sociais”, concluiu. Durante o evento, os índios também questionaram a ausência de representantes do BNDES e cobraram agilidade nas discussões. “Aqui só tem terceiro ou quarto escalão”, disparou Julio Macuxi. “Não estamos representados nesse modelo de desenvolvimento do banco. Desse jeito, para nós, só sobra o impacto das obras”, completou.
O representante do órgão no evento o engenheiro Eduardo Canepa não polemizou com os participantes e rebateu que o banco tem se esforçado para “dar início ao diálogo”. “A máquina não entra em operação de uma hora para outra”, afirmou. Por meio da assessoria de imprensa, o BNDES informou que a composição do Conselho de Administração, formado por empresas, sindicalistas e representantes de governo, é decidida pelo Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior, além da Casa Civil da Presidência da República.
(Por Isabela Vieira, Agência Brasil, 27/05/2009)