O Paraguai iniciou negociações com grandes consumidores livres de energia elétrica no Brasil com o objetivo de vender o excedente de produção de duas usinas instaladas em solo paraguaio, as hidrelétricas de Acaray e de Iguassú. Carlos Mateo Balmelli, diretor-geral paraguaio da Itaipu Binacional, disse, sem revelar nomes, que as negociações estão adiantadas. O governo brasileiro tem dado apoio à ideia, mas recusa-se a aceitar uma mudança no tratado binacional, que permitiria à Ande (a Eletrobrás paraguaia) negociar também energia de Itaipu.
Nesta quarta (27/05), na sede da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), numa entrevista coletiva com Mateo e Jorge Miguel Samek, diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, o assunto foi calorosamente discutido. Samek disse que o tratado não admite que a Ande negocie energia de Itaipu no Brasil. A contraparte paraguaia defende uma interpretação diferente, mas reconhece que essa proposta paraguaia só será acatada após consenso entre as partes.
O diretor brasileiro diz que a estrutura atual está de acordo com o tratado. Mas não é o que pensa o Paraguai, que sob o comando do presidente Fernando Lugo acentuou as pressões sobre o Brasil para a revisão do acordo. "Essa é uma interpretação, com todo o respeito, abusiva, que deriva de uma situação de predomínio [brasileiro]", disse Balmelli, diretor paraguaio da usina binacional.
Segundo ele, autorizar o Paraguai a vender energia de Itaipu no Brasil é algo possível e que requereria apenas um plano para comercialização gradual. "Não estamos aqui como mendigo, não estamos aqui com a mão aberta, queremos, com igualdade de oportunidades, fazer negócios no Brasil", disse.
(Por Agnaldo Brito, Folha de S. Paulo, 28/05/2009)