A concessionária Energia Sustentável (ESBR) passa a correr mais uma vez o risco de ver o período das cheias chegar, sem poder fazer obras importantes na usina de Jirau. Se o entrave vivido no ano passado se repetir - foram meses de negociação até a liberação da licença prévia de instalação -, esse risco pode afetar a escavação do rio e uma nova ensecadeira teria que ser construída.
No ano passado, a concessionária já perdeu a janela hidrológica e por isso o projeto teve que ser alterado, segundo conta o diretor do departamento de energia da construtora Camargo Corrêa, Marco Bucco. O perímetro das ensecadeiras (em que são construídas uma espécie de barreira para desviar o curso do rio e permitir escavações) teve que ser reduzido, para que a construtora pudesse vencer a força das águas. Anteriormente, a ensecadeira na parte mais alta do projeto sairia da margem direita do rio diretamente o à Ilha do Padre. Agora ela passa por uma outra ilha no caminho, a Ilha Pequena.
Como estão hoje, as ensecadeiras ainda não são suficientes para fazer toda a escavação no local da barragem. Bucco explica que ainda existe a possibilidade de se construir a ensecadeira original, aquela mais extensa, a depender do período de seca do rio. Se a seca for forte, é possível escavar sem uma nova obra. O período seco começa em maio e vai até novembro, e a seca máxima do rio Madeira normalmente é registrada em setembro. Já o período de cheias mais elevado é em abril.
Sem a liberação da licença de instalação, as obras da usina hidrelétrica de Jirau seguem paradas e mais de 2 mil funcionários da Camargo Corrêa foram liberados para voltar para casa. O número chega a 2.600 se levado em conta a mão de obra terceirizada. Alguns ainda permanecem no canteiro de obras, parte ajudando no resgate dos peixes da ensecadeira construída entre a margem direita do rio Madeira e a Ilha Pequena. Outra parte está ainda nos alojamentos construídos no local, e a empresa tenta criar opções de lazer.
Para a construtora, enquanto fornecedora de serviços contratada, resta esperar. Isso porque seu contrato com a concessionária Energia Sustentável foi fechado pelo que o mercado chama de preço unitário, ou seja, os riscos são todos assumidos pelo dono do projeto. Inclusive e, principalmente, o de atraso. Os pouco mais de sete dias parados nas obras de Jirau são considerados um prejuízo muito pequeno dentro de um projeto que, na época do leilão, estimava gastar R$ 9 bilhões. Mas é grande em termos de prazo, em um projeto tão ligado à antecipação da produção de energia para potencializar o retorno do investimento. Foi exatamente por uma questão de prazo que tomou-se a decisão de iniciar as obras no fim do ano passado, em pleno período de cheias do Madeira.
Toda a solução de engenharia da construção é aprovada pela ESBR, liderada pelo grupo GDF Suez que tem 50,1% do projeto. A Camargo Corrêa Investimentos tem 9,9% do projeto. "Mas essa é outra empresa do grupo, que não tem a ver com a construtora", lembra Bucco. A construtora Camargo Corrêa apenas apresenta suas propostas, por isso não corre o risco do projeto. A multa aplicada pelo Ibama, por exemplo, alegando que foi desmatada área não permitida para a construção do canteiro de obras terá que ser assumida pela concessionária, caso seja confirmada.
Isso acontece porque a construtora não é o que se chama de uma EPC, que se responsabiliza pela engenharia, suprimento e obras civis. "Dependendo do arranjo de prazo, dá mais controle ser um EPC para buscar prazo menor", diz Bucco. Como a Camargo Corrêa não é EPC de Jirau, a solução tem sido cobrar com antecedência da ESBR tudo o que é preciso para que a obra ande sem atrasos, como fornecimento de material, máquinas e equipamentos. Isso significa que a concessionária tem que administrar todos os prazos com fornecedores para que estejam alinhados com as fases das obras. As ensecadeiras ainda não estão 100% prontas e uma delas, à jusante, ainda não está fechada.
(Por Josette Goulart, Valor Econômico, 28/05/2009)