“Com Cristo, amar e servir”. Este é o lema adotado por Dom Edson Damian, ordenado bispo da Diocese de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, neste domingo, 24 de maio. A ordenação aconteceu no ginásio do Colégio São Gabriel, com participação de mais de duas mil pessoas, a maioria de origem indígena. “Eu chego devagar, pedindo licença para ser acolhido como hóspede, porque eles são os primeiros habitantes e agente deve respeitá-los na sua cultura, na sua religiosidade, no seu jeito de ser”, anunciou Dom Edson.
Ele é o quinto bispo daquela Diocese e substitui Dom Song Sui Wan, nomeado em maio de 2002. Nos últimos dez anos, Dom Edson viveu em Boa Vista (RR), onde acompanhou momentos marcantes das lutas dos indígenas daquele estado pela demarcação e homologação da terra Raposa Serra do Sol.
São Gabriel da Cachoeira está localizada no oeste do estado do Amazonas, na fronteira com Colômbia e Venezuela. Ali vivem 22 povos indígenas, perfazendo um contingente de aproximadamente 50 mil pessoas, em mais de 400 comunidades, que representa em torno de 95% da população. A economia do município é movimentada por um comércio pequeno, pelo serviço público e pelos aposentados.
No final da década de 1980, muitos conflitos marcaram a região. Os indígenas lutavam pela demarcação das terras e entravam em atrito freqüentemente com os militares do Exército Brasileiro. Inspirados pela doutrina da Segurança Nacional, os ministros militares e dirigentes dos órgãos de inteligência interferiam na política indigenista para impedir a demarcação de terras em faixa de fronteira.
Entre 1986 e 1988, na era Sarney, os indígenas resistiam contra a pretensão do Governo Federal de demarcar as terras em forma de pequenas ilhas, rodeadas de florestas nacionais, que facilitavam a exploração de recursos naturais, especialmente os minerais. “Eu venho aqui com a tranqüilidade de encontrar todas as terras indígenas homologadas e aquelas em fase de homologação estão sendo todas feitas de forma pacífica porque aqui não há invasores”, destaca Dom Edson.
Quanto à presença dos militares em meios aos indígenas, Dom Edson diz que hoje a realidade é bastante diferente. “Eu percebi – diz ele-, que houve uma mudança de 10 anos para cá. No Exército havia certa resistência em admitir como soldados os indígenas daqui. Mas eles perceberam que o contingente não é dos soldados, mas do baixo escalão que traziam de outras partes do país e causavam problemas com os indígenas. Hoje, os soldados são indígenas aqui da região”.
O novo bispo de São Gabriel da Cachoeira considerou “heróica” a atuação das missionárias e missionários salesianos. Eles estão na região desde 1914 e foram precedidos por missionários carmelitas, franciscanas e capuchinos, que tiveram uma relação traumática com os povos indígenas. “São Gabriel da Cachoeira é um município com alto grau de alfabetização, comparado com outros do Brasil inteiro. Eles fizeram um bom trabalho na educação. Então, eles (os salesianos) ensinaram o português - que foi uma forma de integrar, mas também aqui há uma outra língua que comunica muitos povos entre si, que é a língua geral, o Nheengatu, dos nossos jesuítas”, conta Dom Edson.
Na celebração de ordenação estiveram presentes nove bispos, dentre os quais Dom Luiz Soares Vieira, vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB; Dom Jaime Chemello – bispo emérito de Pelotas (RS) e coordenador da Comissão Episcopal para a Amazônia, da CNBB; Dom Jesús Guerrero, da Prelazia de Santa Helena de Uairén (Venezuela); Dom Antônio Baiter, da prelazia de Puerto Inirida (Colômbia), além do prefeito Municipal, Pedro Garcia (do povo Tariano), dos vereadores locais e de autoridades militares. Dom Song Sui Wan, agora bispo emérito, ao final da celebração, recebeu o título de cidadão honorífico de São Gabriel da Cachoeira, concedido pela Câmara Municipal.
Compromisso – O primeiro compromisso público do novo bispo de São Gabriel da Cachoeira foi um encontro com a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro – Foirn. À tarde do dia 25 de maio, ele se dirigiu à sede da organização acompanhado por Dom Jaime Chemello; por Paulo Suess, assessor do Conselho Indigenista Missionário – Cimi, e por Edina Margarida Pitarelli, membro da coordenação do Cimi Norte I (AM/RR).
(Cimi, 26/05/2009)