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espécies exóticas invasoras morte de animais conservação da biodiversidade
2009-05-27

Espécies invasoras de flora e fauna agravam a pobreza e ameaçam a agricultura, o reflorestamento, as reservas pesqueiras e os ecossistemas em seu avanço de um continente a outro, segundo especialistas reunidos em Viena, por ocasião do Dia Mundial da Biodiversidade, comemorado na última sexsta-feira. “O sustento de 90% da população da África depende diretamente de recursos naturais como a biodiversidade da costa marinha”, disse à IPS ahmed Djoghlaf, secretário-executivo do Convênio sobre a Diversidade Biológica (1992). “Mais de 1,6 bilhão de pessoas de todo o mundo dependem diretamente das florestas para sua sobrevivência”, afirmou desde Montreal.

A palavra biodiversidade não se refere apenas a animais peludos e pássaros bonitos. Refere-se à variedade da vida sobre a Terra, que inclui ecossistemas que, por sua vez, proporcionam à humanidade serviços vitais, entre eles alimentação e limpeza da água e do ar. “A biodiversidade é o bem mais precioso dos países pobres”, enfatizou Djoghalf. As espécies invasoras – plantas e animais introduzidos em áreas alheias ao seu habitat natural – figuram entre os principais responsáveis pela atual crise de extinções.

Um em cada quatro mamíferos está a abeira da extinção. Das 44.838 espécies catalogadas pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), 38% estão desaparecendo. A cada três horas se extingue uma espécie. Pelo menos 40% de todas as extinções de animais são consequência da ação de espécies invasoras. O alcance desta invasão biológica mundial é assombroso. Na Nova Zelândia foram introduzidas mais de 20 mil variedades vegetais levadas de fora, que competem pelos recursos com as mais de duas mil espécies nativas.

Muitas das espécies estrangeiras não podem sobreviver fora de jardins ou cultivos, mas, ao menos duas mil delas se ‘naturalizaram’: competem com as locais e já causaram várias extinções documentadas de flora nativa da Nova Zelândia que não existem fora desse país”, disse Anthony Ricciardi, biólogo especialista em espécies invasoras da Universidade McGill, de Montreal. Entretanto, este movimento maciço reduz a biodiversidade em geral. Quando se introduziu a perca do Nilo (Lates niloticus) no africano lago Victoria, entre 100 e 150 espécies endêmicas de peixes foram arrasadas. Há muitas instâncias semelhantes, mas o mais comum é os invasores não causarem diretamente as extinções. O fazem indiretamente, competindo por alimentos, espaço e outros recursos, o que, por sua vez, reduz ao mínimo a quantidade de espécies locais. A seguir, um evento climático, uma enfermidade ou alguma outra pressão causa repentinamente o desaparecimento das minguadas espécies autóctones, disse Ricciardi. “Cada espécie invasora provoca um impacto, mas a maioria fica sem ser documentado. Esse impacto é insidioso e frequentemente sutil”, acrescentou.

Inadvertidas, algumas delas se propagam em grandes extensões, adaptam-se às condições do novo lugar e, anos mais tarde, se convertem em um grande problema, ao ficar evidente a degradação ou alteração drástica dos ecossistemas para onde se mudaram. “As espécies invasoras são uma forma de contaminação biológica, mas que pode mudar e adaptar-se”, disse Ricciardi. As espécies locais são vulneráveis às invasoras porque não possuem nenhuma experiência evolutiva que lhes permita enfrentá-las. Há muitos exemplos de grande quantidade de espécies em ilhas devastadas por cabras, gatos e ratos, simplesmente porque tais espécies nunca viveram ali até que alguém as introduziu. E essa é a chave: as invasões estão estreitamente vinculadas ao comportamento humano.

Manter à margem todas as espécies estrangeiras é impossível. Mas, saber quais são potenciais causadoras de problemas e avaliar como podem ser mudadas de lugar não é. Essa é a estratégia de contenção da maioria dos países, onde a todos os que cruzam a fronteira se pergunta se levam plantas, sementes ou animais. A Austrália, com uma longa história de invasores como coelhos e sapos gigantes, insiste para os visitantes entregarem todos os alimentos frescos, bem como animais e plantas. A mudança climática também facilita o traslado de algumas espécies desde suas áreas tradicionais para outras que antes eram muito frias.

Embora o salto inicial do vírus do oeste do Nilo desde a África setentrional para a cidade de Nova York em 1999 não estivesse relacionado com o clima, sua contínua sobrevivência e propagação para o norte, até o Canadá central, foi alentada com o aumento da temperatura de inverto. Esse vírus reduziu as populações de várias espécies de aves e matou dezenas de pessoas. As espécies invasoras afetam todos os aspectos da sociedade, como a perda da biodiversidade, disse Ricciardi. “Simplesmente, não conhecemos todos os impactos da perda de espécies”, acrescentou.

Estão em andamento importantes estudos que buscam determinar precisamente isso, afirmou Djoghlaf. “Em 2010, esperamos divulgar um estudo semelhante ao Stern sobre o valor econômico da perda de espécies”, disse, em referência ao Informe Stern sobre a Economia da Mudança Climática, apresentado em 2006. “A biodiversidade precisa ser vista e compreendida não apenas como um ‘assunto verde’, mas como um importante bem econômico que precisa de proteção”, destacou Djoghlaf.

(Por Stephen Leahy, da IPS / Envolverde, 25/05/2009)


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