Os problemas de saúde provocados pelo uso de agrotóxicos nas lavouras de fumo é um dos principais motivos para que o agricultor queira deixar o cultivo. Em pesquisa feita pelo Departamento de Estudos Sócio-Econômicos Rurais (Deser), 71% dos 1,8 mil camponeses entrevistados disseram que, se dependesse somente da família, largariam o plantio de fumo.
O que ainda prende o agricultor à produção de tabaco, avalia o técnico do Deser, Amadeu Bonato, é a questão econômica. Apesar de sair perdendo na integração com as empresas, o produtor encontra algumas vantagens em relação a outros cultivos, como a garantia da compra do produto, assistência técnica permanente e a negociação de preços que é feita em todo ano. “A garantia de mercado, obviamente que é um atrativo. O agricultor diz ‘olha, porque vou parar de produzir fumo e vou produzir leite, quem me garante que vai ter quem vai me comprar o leite’?”, exemplifica.
Em comparação a outros cultivos, a rentabilidade do fumo é maior. No entanto, a pesquisa do Deser mostra que nem todos os produtores têm bons lucros. Pelo menos 30% obtêm uma renda mensal de menos de 2 salários mínimos.
Estas famílias, alerta Bonato, é que devem receber mais apoio com políticas públicas do governo federal, principalmente no sentido de substituir a produção de fumo. A tendência é que a Convenção-Quadro de Controle do Uso do Tabaco consiga reduzir o consumo de cigarro no mundo, o que irá refletir diretamente nos agricultores.
“Isso significa que numa possível redução da produção há uma tendência forte dos agricultores com menor rentabilidade no fumo serem os primeiros a serem excluídos. Isso está apontando para o governo que é necessário pensar em políticas públicas que amparem essas famílias. E se se quiser que a alternativa não seja o êxodo rural, tem que se buscar alternativa de renda para essas famílias”, analisa.
A pesquisa do Deser foi feita entre o final de 2007 e meados de 2008 com famílias de agricultores das principais regiões fumicultoras nos três estados do Sul do país. Entre os problemas de saúde mais recorrentes estão a intoxicação e a depressão.
(Por Raquel Casiraghi, Agência Chasque, 25/05/2009)