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zoneamento cana sustentabilidade rural
2009-05-27

Dando continuidade ao tema da expansão da cana-de-açúcar no Rio Grande do Sul, já debatido anteriormente na IHU On-Line, entrevistamos esta semana os pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Ivan de Almeida e João Carlos Costa Gomes. Nas respostas, enviadas por e-mail, eles dão detalhes de como foi feito o zoneamento que apontou que, dos 497 municípios gaúchos, 216 (ou seja, 43,5% deles) estão liberados para o plantio desta cultura. Este estudo, feito em parceria com a Unicamp, não é uma novidade, segundo Ivan de Almeida. “Houve um aperfeiçoamento de trabalhos que datam desde 1994, quando a Embrapa lançou o Macrozoneamento Agroecológico e Econômico para o Estado do Rio Grande do Sul, que também contemplava a cana-de-açúcar”.

Em relação às mudanças climáticas no estado, Almeida explica que a região que compreende os municípios apontados no zoneamento sofre de forma mais intensa com a variabilidade climática que atua sobre todo o estado, o que prejudica a produtividade, principalmente dos cultivos de ciclo anual. “Este estudo não considera ainda os efeitos futuros das mudanças climáticas, mas reconhece que o aquecimento global, ou pelo menos a redução do número de geadas, é um fator positivo para uma cultura pouco tolerante ao frio”, esclarece.

Já João Carlos Costa Gomes defende que os riscos do plantio da cana para o solo são os mesmos de qualquer outra cultura. No entanto, ele reconhece que “os danos da monocultura são mais intensos e isso já ocorre no Rio Grande do Sul. O ideal em termos de conservação e qualidade de solos é a diversificação e a mudança de formato da matriz produtiva e tecnológica com a utilização de insumos menos impactantes para o meio ambiente”. Gomes entende que “todo plantio massivo e mecânico ameaça a agricultura”, mas acrescenta que, na Embrapa, se busca fomentar atividades que permitam o aumento da sustentabilidade da agricultura familiar.

Ivan de Almeida é graduado em Geografia, pela Universidade Estadual de Londrina, e possui mestrado e doutorado em Geografia (Climatologia Geográfica), pela Unesp - Presidente Prudente. Por sua vez, João Carlos Costa Gomes possui graduação em Engenharia Agronômica,  pela Universidade Federal de Pelotas, mestrado em Extensão Rural , pela Universidade Federal de Santa Maria, e doutorado em Agronomia, pela Universidad de Córdoba. Confira a entrevista.

O que motivou a realização deste zoneamento sobre a expansão da cana-de-açúcar no Rio Grande do Sul?
Ivan de Almeida
- O zoneamento não é uma medida exclusiva para esta cultura. Desde o ano de 1996, o governo brasileiro instituiu os zoneamentos como uma forma de ordenamento territorial e maior controle sobre os empréstimos dos recursos federais. O incremento do Programa de Desenvolvimento da Agroenergia prevê, além da busca de outras fontes de biocombustíveis, como as oleaginosas (mamona, pinhão manso), a expansão da cana-de-açúcar, contanto que não venha concorrer significativamente com a produção de alimentos.

Pode explicar brevemente como foi realizado o zoneamento, como foi feita a pesquisa, qual o envolvimento da Embrapa e da Unicamp? Quanto tempo durou o estudo?
Ivan de Almeida
– Originalmente, a metodologia da pesquisa visava definir somente o Zoneamento de Risco Climático, ou seja, a probabilidade de sucesso e riscos que uma cultura sofre numa determinada região. Para este zoneamento, entre vários componentes de análise, um deles consistiu em avaliar as regiões que poderiam apresentar impactos negativos com a introdução dessa cultura em substituição e ocupação dos espaços de outras atividades economicamente estabelecidas. A Embrapa, em conjunto com outras instituições, possui, entre seus pesquisadores, uma Rede Nacional de Agrometeorologia, e a Unicamp, por intermédio do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura – Cepagri, é mais uma parceira dessa equipe. Este estudo não é uma novidade. Houve um aperfeiçoamento de trabalhos que datam desde 1994, quando a Embrapa lançou o Macrozoneamento Agroecológico e Econômico para o Estado do Rio Grande do Sul, que também contemplava a cana-de-açúcar.

Em que sentido as mudanças climáticas no Rio Grande do Sul ajudam a explicar os resultados do zoneamento?
Ivan de Almeida
- O estado possui atualmente 497 municípios, e 216 (43,5%) estão liberados pelo zoneamento (veja figura), sendo que o mais importante é quantificar a área agricultável que efetivamente poderá ser ocupada. A região que compreende estes municípios sofre de forma mais intensa com a variabilidade climática que atua sobre todo o estado, prejudicando a produtividade principalmente dos cultivos de ciclo anual. Este estudo não considera ainda os efeitos futuros das mudanças climáticas, mas reconhece que o aquecimento global, ou pelo menos a redução do número de geadas, é um fator positivo para uma cultura pouco tolerante ao frio.

Quais os riscos do plantio da cana para o solo, que historicamente foi ocupado pela pecuária e pela agricultura de alimentos?
João Carlos Costa Gomes
- São os mesmos de qualquer outra cultura. É claro que os danos da monocultura são mais intensos e isso já ocorre no Rio Grande do Sul. O ideal em termos de conservação e qualidade de solos é a diversificação e a mudança de formato da matriz produtiva e tecnológica com a utilização de insumos menos impactantes para o meio ambiente.

A agricultura familiar não fica ameaçada por esse plantio massivo e mecânico?
João Carlos Costa Gomes
- Todo plantio massivo e mecânico ameaça a agricultura. O modelo de agricultura preconizado pela revolução verde com extensas áreas cultivadas em monocultivo, intensa mecanização e uso de agrotóxicos, causou impactos sociais e ambientais significativos em algumas regiões do Estado. Na Embrapa Clima Temperado, trabalhamos com grãos, frutas e hortaliças, pecuária leiteira e com temas transversais, como a agroecologia, exatamente buscando o aumento da sustentabilidade da agricultura familiar.

Como o senhor vê essa questão tendo em vista os limites ecológicos causados pelo monocultivo?
João Carlos Costa Gomes
- Em nossa perspectiva, a produção de cana no Rio Grande do Sul viria como mais uma produção e não como uma substituição ao que já existe. Cabe lembrar que a cana já é cultivada e produzida em algumas regiões do estado e por agricultores familiares, contribuindo para a geração de renda e produtos como: melado, rapadura, aguardentes, entre outros. Contribuindo para a sustentabilidade da agricultura familiar, a cana-de-açúcar também pode representar, e isso já acontece, uma alternativa de alimentação de gado leiteiro ou em cordões de proteção do solo, evitando processos erosivos.

Pensando nos riscos para a natureza, que paralelos o senhor estabelece entre utilizar a base fóssil ou base agrícola para a produção de energia e combustível?
João Carlos Costa Gomes
- Todos sabemos que a base fóssil é finita e que gerou uma série de produtos sob os quais não temos domínio tecnológico. O desenvolvimento de novas rotas de produção de insumos é essencial para a soberania da agricultura brasileira. Na Unidade, temos vários projetos que buscam o desenvolvimento de insumos a partir de matérias-primas locais, utilizando a experiência de técnicos e agricultores e assumindo o desafio de oferecer o necessário conhecimento científico para a expansão dos insumos de origem agrícola. Também entendemos que a adoção de uma base agrícola para a produção de energia e combustível, utilizando os mesmos insumos da agricultura convencional, é um equívoco. Equivale a substituir seis por meia dúzia, porque continuaremos sendo dependentes dos insumos, tais como: fertilizantes, agrotóxicos etc., cuja matriz tecnológica, via de regra, não está localizada no Brasil.

Que relação o senhor estabelece entre a miséria e o plantio da cana-de-açúcar? Uma das justificativas da expansão de cana no Estado, é que o plantio vai gerar mais empregos. A área destinada à plantação não poderia ser utilizada para outro tipo de cultivo que fosse menos agressor ao ser humano, já que a colheita de cana é bastante exaustiva?
João Carlos Costa Gomes
-  É possível relacionar miséria com monocultivo, com dependência tecnológica, com concentração de matriz produtiva etc. Por isso, o enfoque da Unidade é direcionado à diversificação agrícola e adoção de modelos tecnológicos que garantam o protagonismo dos agricultores familiares. No processo de pesquisa com cana-de-açúcar, que retomamos recentemente, pois na década de 1970 já havíamos trabalhado com cultivos agroenergéticos, temos tido a preocupação de dialogar com segmentos que entendem que a cana pode vir a ser mais uma diversificação para a agricultura e para a agroindústria do Rio Grande do Sul. Por exemplo, a FIERGS tem manifestado interesse em fomentar o desenvolvimento de uma indústria de máquinas de pequeno porte e que possa facilitar o trabalho dos agricultores familiares. Técnicos do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) que tratam especificamente da agricultura familiar também entendem que a cultura da cana-de-açúcar no estado, diferentemente de outras regiões do país, possa contribuir para a diversificação a agricultura familiar. Esse também é o entendimento de responsáveis dos movimentos sociais dos pequenos agricultores que tem nos procurado também com essa perspectiva.

(IHUnisinos, 25/05/2009)


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