Dias de chuva forte causam arrepios nos trabalhadores da Central Gaúcha de Transporte, às margens da BR-116 no bairro Três Portas em Sapucaia do Sul (RS). O temor do pessoal de lá e de moradores do entorno é pela iminência de mais um desastre ecológico no Rio dos Sinos. “É impossível não se lembrar da mortandade de peixes de 2006”, diz um deles. O medo é justificado pelos 30 mil metros cúbicos de um tipo de lixo industrial que está espalhado no terreno dos fundos da empresa e em dois açudes próximos. A visão é desoladora. Com uma chuva mais intensa os açudes transbordam levando suas águas contaminadas para o rio.
No terreno a situação é ainda pior. São montanhas de resíduos como raspas de couro e outros materiais contaminados por cromo hexavalente e espalhadas em uma área de quase um quilômetro até a beira do rio. Fora o que está enterrado em quatro metros de profundidade, contaminando o lençol freático.
O cromo hexavalente é reconhecido como um carcinogênico humano e foi muito usado para a produção de aço inoxidável, corantes têxteis, preservação da madeira, curtimento de couro e como anti-corrosivo. Por seus altos níveis de toxicidade, tem sido substituído por alternativos.
No caso de Sapucaia, o lixo tóxico é um passivo ambiental deixado pelo Curtume WAC, fechado em 1998, cujo terreno foi comprado por Gregório Michelski e Silvio Santos, um homônimo do famoso apresentador, mas que não falam sobre o assunto. Um dos vizinhos do lixão diz que o caso já foi parar até no Ministério Público e na Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), mas que nenhuma providência foi tomada. A Fepam apenas estipulou que os proprietários devem limpar a área, o que custaria a bagatela de R$ 3 milhões. Muito mais do que vale todo o terreno.
Mortandade de peixes
Os açudes transbordaram alguns dias antes da maior tragédia ambiental do Estado, quando em oito de outubro de 2006 mais de 80 toneladas de peixes mortos foram encontradas num local bem pertinho dali, entre Sapucaia e Portão. Como suas lonas de politileno já perderam a validade há tempos, além de transbordar, os açudes também vazam periodicamente. E a parede de pedras-lajes, colocadas para reforçar a segurança, foram retiradas por invasores que as utilizam para pavimentação de uma pequena vila atrás dos trilhos do trem.
Um pouco mais em direção à BR estão os cinco tanques de decantação, que serviam na etapa de tratamento dos efluentes do curtume. Dois deles ainda estão cheios com uma água densa de cor azul-esverdeada. À primeira vista parece uma água parada com limo, mas o cheiro que exala dela é, certamente, de algo muito mais sujo.
(Por Carlos Matsubara, Ambiente JÁ, 27/05/2009)