Analistas ambientais do Instituto Chico Mendes realizam, desde segunda-feira (18/05), nos municípios de Campo Formoso, Sento Sé, Juazeiro e Umburanas, na Bahia, a 1º Expedição Conjunta dos Centros de Fauna – Cemave (aves silvestres), CPB (primatas), Cenap (predadores) e RAN (répteis e anfíbios). A expedição, que segue até o dia 31, vai catalogar espécies ameaçadas e reunir dados para a criação do Parque Nacional do Boqueirão da Onça e do Corredor da Biodiversidade da Caatinga, que ligará a futura unidade aos Parques Nacionais da Chapada Diamantina (BA) e da Serra da Capivara (PI).
A região proposta para a implementação do novo parque compreende uma área de 823 mil hectares de caatinga, bioma pouco estudado que, segundo especialistas, pode concentrar inúmeras espécies endêmicas e ameaçadas. Para os analistas ambientais do Centro Nacional de Pesquisa para a Conservação das Aves Silvestres (Cemave), além do levantamento dos animais, a expedição promoverá a troca de conhecimentos entre os pesquisadores que atuam para proteger a fauna.
“É uma ótima oportunidade de aprendizado para os técnicos, um momento de reflexão sobre a importância da preservação das mais variadas espécies e dos ambientes que elas dependem. Este tipo de esforço auxilia na tomada de decisão e define políticas necessárias à conservação”, explica Elivan Arantes de Souza, analista que coordena os técnicos enviados à campo pelo Cemave. O pesquisador lembra que a criação do Parna Boqueirão da Onça é essencial para a concretização da área do Corredor da Caatinga, que atingirá a Bahia, Pernambuco e Piauí e terá cerca de três milhões de hectares, interligando unidades de conservação dos três estados e contemplando grande parte da bacia do Rio São Francisco.
Nesta 1ª expedição conjunta, o Cemave concentrará esforços em Sento Sé, já que quase 70% deste município fica dentro do futuro Parque, uma das áreas prioritárias para conservação da biodiversidade na Caatinga. “Faremos a captura de aves em diversos pontos de coleta. Elas serão transportadas para o acampamento, onde serão realizadas a identificação, marcação com anéis metálicos, medições, fotografias e, finalmente, as solturas”, revela Elivan.
Pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa para Conservação dos Predadores Naturais (Cenap) e do Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Anfíbios (RAN) também estarão em campo realizando atividades em suas áreas de atuação. Vera Luz, chefe do RAN, explica que a região contemplada pela a expedição é riquíssima em espécies de cobras e lagartos. “Nessa área, existem animais que sequer foram descritos e catalogados na lista da fauna brasileira. Já temos levantamentos de répteis e anfíbios em boa parte da bacia do São Francisco. Mas, desta vez, faremos inventários de animais encontrados na região destinada ao parque e começaremos trabalhar a educação ambiental nas comunidades próximas a ele”, adianta.
Já os analistas ambientais do Cenap irão monitorar a população de onça pintada que vive no local. “É uma espécie indicadora de qualidade ambiental. Vamos verificar se houve aumento ou diminuição da ocorrência desse animal e estudar a causa da variação”, revela Ronaldo Morato, chefe do Cenap. Os pesquisadores contarão com armadilhas fotográficas para auxiliar o trabalho de campo. “Esse equipamento ficará instalado por pelo menos 90 dias. Com ele será possível, também, estimar a presença de outros mamíferos nessa região”, completa.
O Centro de Proteção de Primatas Brasileiros (CPB), que também integra a expedição, aproveitará a oportunidade para verificar se existem populações remanescentes do guidó-da-caatinga, espécie rara que ainda não foi encontrada em nenhuma unidade de conservação. “Relatos de moradores de comunidades rurais locais sugerem que esses primatas foram vistos em áreas de difícil acesso, restritas a boqueirões em meio às serras da região. Se confirmada a presença, o Parque agregará mais um elemento de valor inestimável sob sua proteção”, enfatiza Marcos de Souza Fialho, biólogo do CPB.
(Por Márcia Neri, Ascom ICMBio, 21/05/2009)