As indústrias precisam de apoio financeiro para reduzir suas emissões de gases do efeito estufa, disseram líderes empresariais em uma conferência climática na segunda-feira (25/05), atraindo críticas de que eles estariam colocando seus lucros acima do meio ambiente.
O encontro com mais de 500 líderes empresariais, entre domingo (24/05) e terça (26/05), fará um apelo aos governos para que estabeleçam políticas climáticas claras e de longo prazo durante a conferência de dezembro em Copenhague, que irá definir um novo tratado global em substituição ao Protocolo de Kyoto. "A grande restrição é a de verbas", disse Steve Lennon, diretor-gerente da empresa elétrica sul-africana Eskom, referindo-se à necessidade de cortar o custo de combustíveis alternativos ao petróleo. "Não se trata de capacidade, trata-se de custo", disse Tony Hayward, executivo-chefe da empresa britânica de petróleo BP. "A questão é a lacuna entre a energia fornecida hoje e a energia de que estamos falando e que hoje é mais cara."
A BP tem uma parceria com a mineradora Rio Tinto para separar o hidrogênio do dióxido de carbono nos combustíveis fósseis, enterrar o CO2 e vender o hidrogênio como combustível limpo para as empresas do setor elétrico - para isso, no entanto, a empresa diz precisar de apoio financeiro estatal. Um importante consultor disse que as empresas estão cientes da grande preocupação da opinião pública com o aquecimento global, e não querem parecer alheias à luta. "As empresas do petróleo estão falando sobre suas carteiras de energia renovável, mas investindo em combustíveis fósseis", disse Adam Werbach, executivo-chefe da empresa de marketing e consultoria Saatchi & Saatchi S. "Essa é a incrível eficácia das relações públicas na última década. Há uma década as pessoas realmente diziam o que pensavam. Agora é nos bastidores."
Bônus climáticos, mercados de carbono e subsídios à energia renovável são ideias levadas a Copenhague por diretores de empresas como PricewaterhouseCoopers (PwC) e investidores da Vantage Point Venture Partners como formas de promover reduções nas emissões de carbono. "Pagamentos (de subsídios) poderiam diminuir com o tempo, serem focados na economia de carbono, e precisariam recompensar o cumprimento da energia de baixo carbono", disse Hayward, da BP. "Isso está bastante claro. Dá para pegar isso e traduzir em legislação se preferir."
A Royal Dutch Shell, outra grande empresa do petróleo, disse em março que iria reduzir os investimentos em energia solar e eólica, porque essas fontes não poderiam competir com os combustíveis fósseis. Ao mesmo tempo, a empresa disse que aumentaria sua produção de petróleo em 2 a 3 por cento nos próximos quatro anos. Samuel Di Piazza, executivo-chefe da PwC, disse que as empresas querem a introdução "gradual, mas não agressivamente desafiadora" do mercado de carbono, que penaliza quem emite em excesso.
Alguns duvidam da sinceridade das grandes empresas quando se dizem dispostas a combater o aquecimento global. "É da boca para fora por parte de muitos deles", disse Harish Hande, diretor-gerente da Solar Electric Light Company, que já forneceu geradores de energia solar para cerca de 100 mil domicílios da Índia, onde mais de metade da população vive sem eletricidade.
(Estadao.com.br / AmbienteBrasil, 26/05/2009)