Alguns leitores-observadores chamam a atenção para um fato interessante: a imprensa produziu coberturas diferentes sobre a longa e extensa inundação que atinge cidades do Norte e Nordeste do Brasil neste maio de 2009 e as chuvas que provocaram cheias e deslizamentos de terra em Santa Catarina, no Sul, no final de 2008. Para alguns desses observadores, que se manifestam pela internet e em cartas aos jornais, não apenas as autoridades mas também a sociedade e a imprensa parecem algo letárgicas em relação ao que ocorre na parte "de cima" do nosso mapa.
A tragédia no Sul desabou quase repentinamente, após sessenta dias de chuvas fortes e contínuas que começaram a provocar desmoronamentos quase simultâneos, produzindo uma avalancha de notícias trágicas em poucos dias. Além disso, houve um maior número de mortes em Santa Catarina, cerca de 140, contando os desaparecidos.
Entre os estados de Sergipe e Pará, já são quase uma centena os municípios atingidos, causando um número de desabrigados superior aos dos 16 mil desalojados de suas casas na tragédia que atingiu o Sul do Brasil no ano passado. Pode-se comparar a comoção transmitida pelas imagens de destruição no Vale do Itajaí, em 2008, e a desolação que retrata a cidade maranhense de Trizidela do Vale, com quase 100% de suas casas submersas.
Pesos e medidas
Alguns leitores se referem aos sentimentos que provocam as tragédias que afetam descendentes de imigrantes alemães numa região próspera e os cafusos e pardos que habitam a sempre carente porção norte do país. Não se pode afirmar que a imprensa do Sudeste mais rico esteja tratando os nortistas e nordestinos com preconceito ou indiferença, mas de fato há uma grande distinção nos relatos sobre os dois acontecimentos.
No caso de Santa Catarina, o noticiário pronto e constante produziu ondas de solidariedade, oferta de helicópteros e caminhões de mantimentos. Na catástrofe ao norte, as doações começaram para valer mais de duas semanas depois das primeiras notícias.
Está aí um caso que merece muita reflexão.
(Por Luciano Martins Costa, Observatório da Imprensa, 20/05/2009)