Paulo César dos Santos Souza, 40, era fundador de uma associação que se opunha a projeto da Petrobras em Magé. Consórcio GLP Submarino executava a obra, embargada pela prefeitura horas antes do assassinato na noite de sexta-feira (22/05)
Fundador de uma associação que se opunha a um projeto da Petrobras na baía de Guanabara, o pescador Paulo César dos Santos Souza, 40, foi assassinado na noite de sexta em Magé (região metropolitana do Rio). A obra havia sido embargada seis horas antes - os pescadores bloquearam o empreendimento por 36 dias. O crime ocorreu por volta de 23h, na casa do tesoureiro da Associação dos Homens do Mar (Ahomar). Segundo testemunhas, três homens invadiram o local e, após espancá-lo, mataram-no com cinco tiros na face e na nuca diante da mulher e dos filhos de 8 e 16 anos.
O projeto da Petrobras na praia de Mauá, na baía de Guanabara, é executado pelo consórcio GLP Submarino, que reúne as empresas GDK S.A. e Oceânica. Estão sendo construídos dois dutos para escoamento de gás de cozinha entre o terminal da Ilha Redonda, perto da Ilha do Governador (zona norte do Rio), e a Refinaria de Duque de Caxias. Os pescadores reclamam de degradação ambiental, da redução à metade do pescado no mar e de acidentes provocados por embarcações do consórcio. Na sexta, após vistoria das secretarias de Meio Ambiente e Fazenda de Magé, que apontou 42 supostas irregularidades, a prefeitura cassou a licença do canteiro de obras, que foi lacrado, seis horas antes do crime.
O corpo de Souza foi enterrado neste domingo de manhã (24) no cemitério Nossa Senhora da Guia, em Magé. Cerca de 50 pessoas acompanharam o cortejo, inclusive o presidente da associação, Alexandre Anderson de Souza, que afirma já ter sofrido três atentados -o mais recente em 1º de maio. O caso foi registrado na 66ª DP (Piabetá). O tesoureiro da Ahomar estava afastado da "linha de frente" do movimento havia quatro meses. Segundo uma fonte ouvida pela Folha, ele era contra as manifestações, inclusive porque sua mulher trabalha no canteiro de obras. Anderson, porém, afirma que ele se afastou, antes da admissão da mulher, porque estava com medo.
"Não há muita dúvida quanto à vinculação do homicídio e as denúncias da associação", disse Marcelo Freixo (PSOL), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio. A GDK, empresa que lidera o consórcio, é a mesma que doou um jipe Land Rover ao ex-dirigente do PT Silvio Pereira. A Folha telefonou ontem para os escritórios da GDK em São Paulo, Rio e Salvador e mandou e-mail para a assessoria de imprensa, mas não obteve resposta até a conclusão desta edição. A Petrobras disse que vai aguardar as investigações antes de se pronunciar sobre o crime.
(Por André Zahar, Folha de S. Paulo, 25/05/2009)