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etanol complexo sucroalcooleiro política energética
2009-05-24

Combustível que começou a ser comercializado no País há três décadas terá produção reduzida este ano

Os problemas financeiros que atingiram o setor sucroalcooleiro desde o aprofundamento da crise, em setembro do ano passado, estragaram a festa dos 30 anos do início de comercialização do etanol no Brasil, comemorados neste mês. Foi em maio de 1979, quatro anos depois do lançamento do Proálcool, que 16 postos da Petrobrás começaram a abastecer dois mil automóveis adaptados ao combustível. De lá pra cá, o produto passou por vários altos e baixos, como o desabastecimento da década de 80, que desmoralizou o setor por vários anos.

A partir de 2002, com o avanço das discussões em torno do Protocolo de Kyoto (acordo que estabelecia metas de controle dos gases causadores do efeito estufa a partir de 2008) e, mais tarde, com o lançamento dos veículos flex, o Proálcool foi revitalizado. Uma nova onda de investimentos favoreceu o setor e centenas de usinas foram construídas para elevar a produção nacional. O etanol ganhou importância no contexto do esforço contra o aquecimento global e virou alternativa para a alta do petróleo. Investidores do mundo inteiro, inclusive do mercado financeiro, despejaram bilhões de dólares no País em novas plantas para produzir álcool. Mas a euforia deu lugar à frustração. Primeiro veio o bombardeio de críticas que relacionava o aumento da produção de biocombustíveis ao aumento de preços dos alimentos. Depois, a crise mundial.

Altamente endividadas no curto prazo, muitas empresas passaram a ter problemas de liquidez uma vez que o mercado de crédito mundial se fechou, destaca o presidente do Sindicato de Açúcar e Álcool de Minas Gerais, Luiz Custódio Cotta. Algumas companhias entraram com pedido de recuperação judicial, a exemplo do que ocorreu terça-feira (19/05) com a Infinity, que detém dívida de R$ 1 bilhão. Outras decidiram declarar, temporariamente, uma moratória com o Fisco. Sem recursos para capital de giro e até para pagar o salário dos funcionários, algumas empresas estão usando o dinheiro dos tributos para sobreviver, explica o diretor da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), Antônio Pádua Rodrigues. Segundo ele, porém, essa situação tem sido mais comum no Nordeste. "Sem acesso ao crédito, eles foram pedir um empréstimo-salário para o governo federal para honrar seus compromissos."

Em São Paulo, maior produtor do País, a solução encontrada pelos usineiros foi inundar o mercado de combustível. A decisão derrubou o preço do litro do combustível para abaixo de R$ 1 em alguns postos da cidade, na semana passada. "Hoje estamos vendendo etanol abaixo do custo de produção", afirma o presidente da União dos Produtores de Bioenergia (Udop), José Carlos Toledo.

Essa iniciativa, no entanto, pode ter consequências no futuro, afirmam os especialistas. Isso porque o preço do combustível estimula o aumento do consumo. O problema é que, com os prejuízos do etanol, a indústria decidiu elevar a produção de açúcar, cujo preço está mais atrativo no mercado internacional por causa da quebra de safra da Índia, que de exportadora passou a importadora este ano. Segundo Pádua, a produção do setor em 2009 será 45% voltada para o açúcar e 55% para o álcool. Em 2008, esses porcentuais eram de 40% e 60%, respectivamente. Os dois fatores somados - maior consumo de álcool e maior produção de açúcar - devem representar uma escalada do preço do combustível para o consumidor no segundo semestre.

Outro fator que jogou um balde de água fria nos planos dos investidores foi a dificuldade para abrir o mercado internacional para o etanol. Com queda do petróleo, as discussões diminuíram enquanto a produção aumentou. "O etanol não vai virar commodity num estalar de dedos", diz Pádua. "Vai ocorrer, mas num prazo mais longo". Segundo ele, o que o setor precisa, no momento, é de uma política energética clara. "De tempos em tempos, o governo elege um tipo de combustível para incentivar. Na década de 70, foi o etanol, depois a gasolina. Mais tarde, decidiu-se pelo gás natural veicular." A dúvida agora é se o pré-sal promoverá mais alguma mudança.

(Por Renée Pereira, O Estado de S. Paulo, 24/05/2009)


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