Nós, povo Xukuru do Ororubá, protegidos pelas forças dos Encantos de Luz e da Natureza Sagrada, nos reunimos na nossa IX Assembléia, que teve como tema “FORTALECER A ORGANIZAÇÃO PARA ENFRENTAR A CRIMINALIZAÇÃO”, realizada na aldeia Capim de Planta, entre os dias 17 a 20 de maio de 2009, com a participação de representantes das 23 aldeias do nosso povo; dos parentes indígenas Truká, Kambiwá, Kapinawá, Pankararu de Pernambuco; Potiguara da Paraíba, e Anacé do Ceará; das entidades aliadas e apoiadores da causa: Conselho Indigenista Missionário - CIMI, Centro de Cultura Luiz Freire - CCLF, Centro Josué de Castro, Fio Cruz, Pastoral do Menor da CNBB/ Regional Nordeste II, Biblioteca Multicultural de Olinda, Diocese de Pesqueira, professores/as e estudantes da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE e da Universidade de Pernambuco - UPE e de pessoas simpatizantes da nossa luta.
Apesar de grande parte do nosso território tradicional já se encontrar em nossas mãos e da nossa vontade e disposição para garantir a qualidade de vida das famílias Xukuru, a perseguição ao nosso povo continua.
Como se não bastassem os diversos assassinatos de nossas lideranças, agora sofremos com a ofensiva da criminalização. Atualmente, há 43 pessoas sendo processadas. Desse total, 26 já foram condenadas, duas cumprem prisão preventiva e outras aguardam julgamento. São homens honestos, pais de famílias e filhos que junto às suas comunidades tem dado exemplos de vida digna. Esta honestidade é testemunhada tanto pelos membros das comunidades Xukuru, como por pessoas e autoridades respeitadas da sociedade regional, a exemplo do nosso pastor, D. Francisco Biasin, bispo da Diocese de Pesqueira. Esses homens cometeram um único crime: o de lutar para garantir os nossos direitos, especialmente o direito a terra e à sobrevivência física e cultural do nosso povo.
Sabemos que essa situação é vivenciada também por outros povos indígenas no Brasil, e que faz parte de uma estratégia das elites brasileiras que querem continuar a exploração de nossa gente, não aceitando que os explorados se organizem e garantam os direitos fundamentais para uma vida digna. Estamos indignados e queremos dar um basta a essa situação! Exigimos que deixem nosso povo em paz! Queremos que todos saibam que não ficaremos calados. Estamos denunciando essa trama cruel e absurda contra nosso povo em Pernambuco, no Brasil e em âmbito internacional.
Mesmo sabendo que aqueles que estão contra nosso povo detêm o poder político e econômico no nosso país, nós não temos medo e não estamos sós. Contamos com a força de Tamain e Tupã, os encantos e a natureza sagrada, temos também o apoio de aliados, que conhecem profundamente essa trama diabólica e cruel arquitetada contra o povo Xukuru.
Assumimos como nossa, a fala de Zenilda, nossa conselheira espiritual e mãe do povo Xukuru: Vamos continuar lutando, “porque a maioria daqueles que não abraçam a causa dos pobres acham que somos marginais, mas nós somos cidadãos. Nós discutimos nossas lutas com alegria, porque as forças encantadas nos ajudam. Nós somos persistentes. Não é uma minoria que vai nos fazer desistir. Nós não vamos desistir de dar continuidade porque nossas crianças e jovens precisam viver nessa terra, com seus usos e costumes, pois quem nasceu para viver lutando não vai morrer de braços cruzados”. Na certeza da vitória, seguiremos sempre adiante, pois nossa luta é constante.
(Cimi, 21/05/2009)